Noiva de Khashoggi pede à ONU investigação independente sobre a morte
A noiva do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado no consulado do seu país em Istambul, pediu hoje justiça às Nações Unidas, defendendo que só a organização pode realizar uma investigação independente sobre o crime.
© Reuters
Mundo Khashoggi
Num evento à margem do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, Hatice Cengiz afirmou que a investigação que a Arábia Saudita diz estar a levar a cabo "não tem legitimidade" porque "foram eliminadas provas".
"A ONU é a única via que resta", disse Cengiz, uma cidadã turca, acrescentando que há uma necessidade urgente de um inquérito internacional" sobre o caso.
Numa mesa redonda promovida pela organização não-governamental "Não há paz sem justiça", com o apoio do Governo do Canadá, Cengiz referiu-se ao relatório sobre o homicídio de Khashoggi publicado na semana passada pela relatora da ONU sobre assassínios seletivos e execuções arbitrárias, Agnès Callamard.
O relatório, de 101 páginas, refere a existência de "provas credíveis" do envolvimento do príncipe saudita Mohamed bin Salman na morte do jornalista e pede a aplicação de sanções contra o herdeiro do trono da Arábia Saudita.
No relatório, que na quarta-feira será presentado oficialmente ao Conselho de Direitos Humanos, Callamard pede ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para "exigir" avanços na investigação criminal do caso.
Hatice Cengiz disse hoje que este "é o primeiro relatório que deixa claro como se deve proceder" e considerou que a ONU tem agora a responsabilidade de investigar mais a fundo a morte de Khashoggi, apelando a que o documento "não fique esquecido em alguma prateleira".
"Se a ONU não investigar e se não houver seguimento deste caso, quem poderá fazê-lo", questionou-se.
A noiva do jornalista recordou que, após as informações recolhidas e reveladas pela Turquia e as conclusões de Callamard, "ninguém pode negar que foi um crime premeditado e não o resultado de uma situação que se tornou incontrolável".
No mesmo evento, Callamard disse ter decidido investigar o caso quatro meses depois da morte de Khashoggi porque tentou sem êxito convencer outros órgãos da ONU a assumir a tarefa.
"Como isso não aconteceu, decidi fazê-lo eu, porque entrava no mandato que me deu o Conselho de Direitos Humanos, explicou a relatora.
A especialista disse que o que aconteceu a Khashoggi se insere numa tendência para o aumento do número de assassínios seletivos de jornalistas e ativistas políticos, incluindo os que estão no exílio.
A 02 de outubro, o jornalista Jamal Khashoggi, que morava nos Estados Unidos e trabalhava para o Washington Post, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, com o objetivo de tratar de alguns documentos para poder casar-se com uma cidadã turca.
O jornalista não voltou a sair do consulado, onde foi morto por agentes sauditas, que saíram da Turquia e retornaram à Arábia Saudita logo após o assassínio do jornalista.
Após negar a morte numa primeira fase, Riade avançou com várias versões contraditórias e defende agora que o jornalista foi morto numa operação realizada por agentes e não autorizada pelo poder.
A justiça saudita inocentou o príncipe herdeiro e acusou 11 suspeitos pelo assassínio, num julgamento que começou no início de janeiro e em que o Procurador Geral solicitou a pena de morte para cinco deles.
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