Reunião tenta salvar acordo sobre nuclear iraniano "em estado crítico"
O acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano está "em estado crítico", devido à saída dos Estados Unidos do pacto e ao restabelecimento de sanções, e os restantes signatários reúnem-se na sexta-feira em Viena para tentar preservá-lo.
© Reuters
Mundo Viena
A reunião de acompanhamento da aplicação do acordo, presidida pela Alta Representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, conta com a participação da China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido e Irão.
O contexto é de grande tensão entre Teerão e Washington e o encontro ocorre quando falta pouco mais de uma semana para o final do prazo dado pelo Irão aos Estados ainda parte do acordo para o ajudarem a contornar as sanções norte-americanas que arruínam a sua economia.
Um ano depois dos EUA terem anunciado a saída do acordo e restabelecerem sanções, no passado dia 08 de maio, Teerão anunciou que deixaria de respeitar dois dos seus compromissos no âmbito do acordo, renunciando a limitar as suas reservas de água pesada e de urânio enriquecido.
Adiantou que deixaria de respeitar as restrições sobre o grau de enriquecimento de urânio e retomaria o seu projeto de construção de um reator de água pesada em Arak (centro) se os signatários do acordo não conseguissem cumprir os seus compromissos no prazo de 60 dias.
O pacto assinado em Viena em 2015 estabelece limites ao programa nuclear iraniano em troca do levantamento das sanções internacionais, mas as medidas adotadas até agora pela Europa em contraponto às sanções norte-americanas não têm sido eficazes.
Na quarta-feira, o embaixador do Irão na ONU pediu ao Reino Unido, à França e à Alemanha para tomarem medidas úteis "a tempo" para preservar o acordo, que considerou estar "em estado crítico".
Os três países instaram, por seu turno, o Irão a continuar a cumprir o acordo e a abster-se de contribuir para um aumento da tensão.
A Agência Internacional de Energia Atómica, que fiscaliza a aplicação do acordo, certificou que o Irão tem cumprido até agora com os compromissos assumidos e uma fonte diplomática em Viena disse que Teerão também não deve ultrapassar hoje as reservas de urânio fracamente enriquecido estabelecidas no pacto, ao contrário do anunciado pela República Islâmica.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, reiterou hoje que Paris partilha o mesmo "objetivo estratégico" que os Estados Unidos, ou seja, "que o Irão não possa obter armas nucleares".
Mas, para Macron, isso é o que visa o pacto de Viena e havendo "o risco" de o "Irão sair do acordo", a comunidade internacional deixaria de poder seguir as atividades de enriquecimento de urânio de Teerão, assinalou.
Segundo vários especialistas contactados pela agência France Presse, apesar das suas posturas, os europeus nunca tiveram condições para salvar o acordo internacional face ao domínio económico norte-americano.
"As pessoas mais lúcidas estavam conscientes desde 08 de maio de 2018 que a Europa seria travada, que as empresas não se iriam opor a Trump", analisou o antigo diplomata francês Denis Bauchard, adiantando que houve "muita retórica" por parte dos dirigentes europeus.
O antigo chefe da diplomacia francesa Hubert Védrine disse-o de outra forma numa declaração à rádio RFI: "Dizer que mantemos o acordo, está certo no plano dos princípios, mas na prática não é possível".
A estrutura criada pelos signatários europeus do acordo para algumas empresas poderem trabalhar no Irão contornando as sanções norte-americanas, a Instex, é "inútil face à enorme influência dos Estados Unidos nos mercados financeiros e na economia mundial", reforçou Annalisa Perteghella, especialista do Irão, do Instituto de Análise Geopolítica italiano (ISPI).
As leis extraterritoriais norte-americanas permitem punir empresas por atos não realizados em território dos Estados Unidos e "as empresas francesas não dispõem de ferramentas jurídicas eficazes para se defenderem de ações judiciais extraterritoriais", explica um relatório parlamentar francês do deputado Raphael Gauvain, divulgado na quarta-feira, que considera que o direito "se tornou hoje uma arma de destruição na guerra económica conduzida pelos EUA contra o resto do mundo, incluindo os seus aliados".
Quanto ao papel das duas outras potências signatárias do acordo, a Rússia e a China, um responsável europeu que não quis ser identificado lamentou que os iranianos "atribuam aos europeus a principal responsabilidade da sobrevivência do acordo".
"Não diria que o acordo está morto, mas está claramente nos cuidados intensivos (...) Os Estados Unidos causaram-lhe grandes feridas e a União Europeia não conseguiu curá-las", considerou Annalisa Perteghella.
Denis Bauchard considera que no final, com ou sem acordo, "ficarão apenas a China e a Rússia que sem dúvida enfrentarão as proibições de Trump".
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