Coligação na Alemanha "vai sobreviver" à nomeação de Von der Leyen
O analista alemão Josef Janning defende que a aliança entre conservadores e democratas "vai sobreviver" à nomeação de Ursula von der Leyen para presidente da Comissão Europeia, que não agradou aos parceiros de coligação no governo de Angela Merkel.
© Reuters
Mundo Politólogo
Tanto a União Social Cristã (CSU), partido irmão da CDU na Baviera, como o Partido Social Democrata (SPD), manifestaram o descontentamento depois da decisão tomada na terça-feira, em Bruxelas. Depois de uma longa maratona negocial, que se prolongou durante três dias, os chefes de Estado e de governo dos 28 países da União Europeia designaram Ursula von der Leyen, atual ministra da Defesa do Governo alemão liderado por Angela Merkl, para a presidência da Comissão Europeia.
Em declarações à agência Lusa, o analista política e diretor do departamento do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) de Berlim, Josef Janning, admite que os social-democratas "sentem e querem fazer crer que o processo democrático foi traído".
"Eu não acho que isso seja verdade", acrescenta Josef Janning, assumindo que haverá alguma "estranheza" na grande coligação (GroKo), mas esta nomeação e as ideias de von der Leyen "não irão quebrar" a aliança que sustenta o governo alemão.
"Estrategicamente não faz muito sentido que o SPD abandone a coligação, porque isso não seria necessariamente bem aceite pelas pessoas", sustenta o politólogo.
O líder dos eurodeputados social-democratas, Jens Geier, já fez saber, em Estrasburgo, que não apoiaria a nomeação da ministra alemã, revelando que "a fração europeia do SPD definitivamente não concordará com esta proposta". Martin Schulz, antigo presidente do Parlamento Europeu, qualifica-a mesmo como "a mais fraca ministra do governo".
Sigmar Gabriel, antigo líder do SPD, fez saber, em declarações ao "Der Spiegel", que "se Merkel nomeou von der Leyen sem a aprovação do governo, então existe uma clara violação das regras", o que pode justificar, realça, "uma saída do executivo". Mas Malu Dreyer, que ocupa um dos três lugares na liderança interina do partido, já disse, no programa "Morgenmagazin", da ZDF, que não vai "tão longe".
Para Josef Janning, a chanceler Angela Merkel não orquestrou este desfecho, que nem é, na opinião do analista político, particularmente benéfico para a Alemanha.
"Merkel não entrou nisto a pensar que o processo do Spitzenkandidat ia falhar para poder apresentar o seu candidato. Isso é ridículo. Não foi planeado e não foi essa a estratégia, até porque a Alemanha não ganha particularmente em ter um presidente da Comissão Europeia. Talvez seja visto dessa forma noutros Estados-membro, mas a verdade é que não é particularmente relevante", defende o diretor do departamento do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) de Berlim.
Na Baviera, o líder da CSU, Markus Söder, considerou que o afastamento de Manfred Weber foi uma derrota para a democracia e para a Europa.
"Weber teria sido o presidente legítimo da Comissão, o caminho mais democrático. É amargo que a democracia tenha perdido e que a política de bastidores tenha vencido", declarou.
Ainda assim, a União Social Cristão apoia a nomeação de von der Leyen.
"É claro que é bom para a Alemanha que possamos nomear novamente o Presidente da Comissão, pela primeira vez em décadas", acrescentando Söder que aceita a decisão que, apesar de ser "um ponto para a Alemanha", é também "uma derrota para a Europa".
Para o editor de política do diário Rheinische Post, Martin Kessler, a escolha de Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia "não é má", frisando a experiência internacional e no setor da defesa.
"Por um lado, a decisão liberta Angela Merkel, e por outro, permite a Emmanuel Macron evitar que Manfred Weber tome o lugar. Merkel consegue assim colocar uma alemã na presidência da comissão europeia e isso é, ao fim de contas, um bom resultado", realça, em declarações à agência Lusa.
Para se tornar presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen terá de conseguir a aprovação do Parlamento Europeu numa votação agendada para meados deste mês, prevista para 16 ou 17 de julho.
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