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Após seis meses de contestação na Argélia a situação é de impasse

Os argelinos saíram para as ruas há seis meses, que se cumprem na quinta-feira, dando início a um movimento de contestação sem precedentes que não tem enfraquecido, mas que parece enfrentar agora um poder inflexível.

Após seis meses de contestação na Argélia a situação é de impasse
Notícias ao Minuto

07:57 - 21/08/19 por Lusa

Mundo Movimento

A 22 de fevereiro, as ruas de várias cidades argelinas incluindo a capital, Argel, onde as manifestações estavam proibidas há 18 anos, foram ocupadas por milhares de pessoas em protesto contra um quinto mandato do Presidente Abdelaziz Bouteflika.

No poder há duas décadas, Bouteflika, enfraquecido por um acidente vascular cerebral ocorrido em 2013, tinha anunciado a 10 de fevereiro que disputaria um quinto mandato.

Passados seis meses, os manifestantes argelinos "conseguiram muito mais do que numerosos observadores imaginavam", constatou recentemente o Instituto dos Estudos de Segurança (ISS), sediado em África, segundo a agência France Presse.

A 02 de abril, o Presidente Bouteflika demitiu-se, depois de no mês anterior ter renunciado a candidatar-se a um quinto mandato e adiado as presidenciais 'sine die'.

Entretanto, foram detidas várias figuras da sua presidência, nomeadamente políticos e empresários suspeitos de corrupção, mas o "Hirak" (movimento de protesto) não conseguiu avanços em direção à exigida mudança de regime e o que designa como "sistema" continua no poder.

O alto comando das forças armadas, enfraquecido sob Bouteflika, é novamente o detentor do poder real, embora enfrente agora uma sociedade consciente da sua força coletiva e que recuperou liberdade de expressão.

"A libertação da palavra, mesmo dentro das instituições do Estado", é uma das "conquistas indiscutíveis", considera o politólogo argelino Mohamed Hennad, citado pela AFP.

Louisa Dris-Ait Hamadouche, professora de Ciências Políticas na Universidade de Argel, enumera "a consciência do que é hoje politicamente inaceitável, a elevação das aspirações a um nível inédito (...), a consciência do poder de mobilização".

Há também uma "reconciliação com a política e o futuro" e o fim das "divisões habituais" entre gerações ou homens/mulheres, adiantou.

Desde há semanas que a situação parece totalmente bloqueada.

"Os esforços do governo para acalmar a população através de pequenas medidas essencialmente simbólicas (...) favoreceu sobretudo a procura de uma mudança mais completa", nota o ISS.

O poder continua a rejeitar categoricamente a reivindicação central: o desmantelamento das instituições, com a saída de todos os que acompanharam e apoiaram Bouteflika, que seriam substituídas por órgãos de "transição".

As autoridades só aceitam falar da organização de presidenciais para eleger um sucessor de Bouteflika, que consideram a única solução para o país sair do impasse constitucional.

O "Hirak" recusa que o "antigo regime", acusado de décadas de fraudes, organize qualquer escrutínio e até agora os manifestantes têm conseguido manter uma frente unida.

Os argelinos "recusam uma eleição que conduza à reprodução do sistema", assinala Dris-Ait Hamadouche.

Os analistas concordam ser difícil prever o que acontecerá a seguir.

A "incerteza é exacerbada pelo impasse cada vez mais marcado entre o movimento de contestação e o governo", segundo o ISS.

Para Mohamed Hennad, "o resultado dependerá de vários fatores e de imprevistos que não se controlam".

O calor estival e as férias escolares não diminuíram a mobilização dos contestatários e Hennad não exclui que, "face à obstinação do poder", possam recorrer a outras ações como "greves, atos de desobediência civil".

Poucos acreditam numa intervenção militar dura, como em 1988 -- durante tumultos que levaram ao multipartidarismo -- ou 1992 -- quando o processo eleitoral foi interrompido para impedir a vitória dos islamitas nas legislativas -- pelo que o impasse poderá ser longo.

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