"Sei que algumas pessoas em Macau quiseram fazer uma manifestação ou uma marcha, mas foram travadas", o que "é muito triste", afirmou a cantora que, nos últimos três meses, discursou na ONU e no Congresso norte-americano, em defesa do movimento pró-democracia.
Em entrevista à Lusa, na véspera da celebração dos 70 anos da fundação da República Popular da China que se assinalam hoje, defendeu que "as pessoas têm que acreditar no poder da solidariedade" e que "muitas coisas podem ser feitas de uma forma relativamente segura".
Contudo, ressalvou, "isso exige que as pessoas usem a sua criatividade e imaginação como a população de Hong Kong mostrou ao mundo", para insistir numa prioridade: "a segurança está em primeiro lugar".
A 03 de setembro, o Governo de Macau negou qualquer ação de censura política no território a ações de apoio aos protestos em Hong Kong, garantindo que se mantém salvaguardado o direito à manifestação e liberdade de expressão.
"Não é censura política", a atuação da polícia "baseou-se sempre em factos objetivos", defendeu então o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak.
Em causa estão pelo menos três episódios, em agosto.
Primeiro, a proibição de uma manifestação e posterior atuação policial no dia e no local para onde estava convocada o protesto contra a brutalidade em Hong Kong.
Depois, a deslocação da polícia ao Instituto de Formação Turística (IFT) porque dois estudantes empunhavam cartazes de apoio às reivindicações pró-democracia na região administrativa chinesa vizinha.
Outro, no mesmo contexto dos protestos de Hong Kong, diz respeito a quatro pessoas que foram abordadas pela polícia porque se encontravam a fazer colagens no espaço público, sem que tenham ficado detidos, afiançou o secretário para a Segurança.
O caso mais mediático ocorreu em 19 de agosto, já depois da Corporação da Polícia de Segurança Pública ter proibido naquele dia um protesto pacífico silencioso, no centro de Macau, contra o uso excessivo de força por parte das forças de segurança sobre os manifestantes pró-democracia.
Em 15 de agosto, a polícia alegou que não podia autorizar uma iniciativa de apoio ao que considerou serem "atos ilegais" cometidos pelos manifestantes em Hong Kong e que tal "poderia enviar uma mensagem errada à sociedade de Macau".
Quatro dias depois, montou uma operação no local durante a qual 600 pessoas foram abordadas para identificação, sete das quais foram levadas para interrogatório, com as forças de segurança a sublinharem que não houve lugar a qualquer detenção.
O Governo de Hong Kong anunciou a retirada formal das emendas à polémica lei da extradição que esteve na base da contestação social desde o início de junho.
Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
A transferência de Macau e Hong Kong para a República Popular da China, em 1999 e em 1997, respetivamente, decorreram sob o princípio "um país, dois sistemas".
Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.