"Este é um momento ao qual nunca assistimos historicamente. (...) Se perdermos esta oportunidade, os poderes da máquina comunista chinesa vão dominar a vida de todas as pessoas [de Hong Kong]. Pelo que é mesmo agora ou nunca", defendeu a cantora que, nos últimos três meses, discursou na ONU e no Congresso norte-americano, em defesa do movimento pró-democracia.
Em entrevista à Lusa, na véspera da celebração dos 70 anos da fundação da República Popular da China que se assinalam hoje, frisou que nestes meses de protestos Hong Kong tem beneficiado "de uma posição favorável, tanto interna como externamente" e que "os problemas que a China está a enfrentar [é algo que] está a ajudar e a proteger a população" do território.
"A guerra comercial entre os EUA e a China ou as eleições em janeiro em Taiwan penso que estão a proteger a população de Hong Kong" de medidas mais drásticas de Pequim, defendeu a artista, cujo ativismo político a deixou fora do gigantesco circuito comercial chinês, mas tornou-a numa das vozes mais importantes da contestação.
"Se não fosse isso sabe-se lá que poderia ter acontecido, o que o Governo comunista podia ter feito", como "o envio de tropas ou um cenário pior", acrescentou Denise Ho, que no domingo participou numa manifestação de apoio aos protestos em Hong Kong em Taiwan, território que tem reivindicado a sua autonomia face a Pequim, mas que a China reclama como seu.
O Governo de Hong Kong anunciou a retirada formal das emendas à polémica lei da extradição que esteve na base da contestação social desde o início de junho.
Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas".
Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.