Lula da Silva voltou a insistir na sua inocência numa entrevista à RTP. O antigo governante acredita que foi "preso para não ser candidato à presidência da República" e que a sua "prisão é de cunho político. Aconteceu já no seio do pacote do ‘impeachment’ da presidente Dilma Rousseff".
Questionado sobre as denúncias do The Intercept, que revelou mensagens que Sérgio Moro, então juiz, terá trocado com procuradores da Lava Jato, parecendo colaborar com a acusação ao invés de manter a imparcialidade que lhe era exigida, Lula não se mostrou surpreendido.
"Eu e os meus advogados já as tínhamos feito antes. Há quatro pessoas que sabem da verdade neste país. Deus sabe que eu estou inocente, eu sei que estou inocente, o Moro sabe que estou inocente e o Dallagnol sabe que estou inocente. Eu quero um julgamento justo. Se provarem com provas materiais que eu cometi algum delito, eu calo-me e cumpro a minha pena. Se não provarem, quero a minha liberdade e a condenação de quem errou", atirou o petista.
Lula da Silva apontou ainda alguns dos motivos que levaram à sua prisão.
"Estou convencido que isto aconteceu, primeiro, por interesses americanos na descoberta do pré-sal brasileiro, que é a maior descoberta de petróleo no século XXI; aconteceu por conta do Departamento de Justiça dos Estados Unidos em convénio com o Ministério Público brasileiro e com Sérgio Moro; e aconteceu porque se o Lula fosse candidato a presidente, o Lula teria sido eleito presidente da República", realçou o antigo líder brasileiro, acrescentando que "se tivesse sido candidato certamente tinha ganho as eleições na primeira volta".
Entre as pessoas que pretende ver condenadas, há um nome que se destaca: Sérgio Moro, o juiz que o condenou e que é o atual ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, e a quem chama de "ídolo de barro".
"Enquanto há uma unanimidade para condenar o Lula, há uma unanimidade para transformar o Moro em herói. E eu quero provar que o Moro é o bandido", disse o ex-presidente.
Críticas a Bolsonaro e elogios a António Costa
No decurso da entrevista, Lula fez várias críticas a Bolsonaro, que apelidou de "destruidor das coisas da democracia" no Brasil. Mas também afirmou que o presidente "é muito despreparado politicamente".
"Ele é uma pessoa que acha bonito ser mal educado, acha bonito ofender as pessoas, acha bonito ofender o presidente de França, ofender o presidente da Argentina, acha bonito intrometer-se nas eleições de outros países. Ele fala de tudo menos do que se passa no país dele", declarou Lula da Silva.
E foi numa referência à importância do crescimento económico para o Brasil que Lula fez elogios aos trabalho desenvolvido pelo primeiro-ministro António Costa em Portugal. "A única forma de fazer o país crescer é fazer o que o meu amigo António Costa está a fazer em Portugal. Você não sacrifica o povo para contentar os ricos. Se tem uma forma de fazer o país crescer é distribuindo os recursos do país", afiançou, para depois admitir que ficou feliz com a vitória de António Costa nas legislativas.