Comissão já recolheu 3.400 denúncias de abusos sexuais na igreja francesa

A comissão independente encarregada de investigar os casos de pedofilia no seio da igreja católica em França recebeu em apenas cinco meses 3.400 denúncias de vítimas ou testemunhos de abusos de menores, ocorridos maioritariamente entre 1950 e 1980.

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Lusa
19/11/2019 19:45 ‧ 19/11/2019 por Lusa

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França

"O trabalho iniciado produziu resultados significativos, mas sem dúvida não representativos da totalidade de abusos sexuais que podem ter sido cometidos num período tão alargado, tendo em conta que 65% da população francesa maior de 18 anos manteve contactos regulares com a igreja católica", disse o presidente da comissão, Jean-Marc Sauvé, em conferência de imprensa citada pela agência EFE.

A Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja (Ciase, na sigla francesa) foi formada a pedido do episcopado e da conferência de religiosos em novembro de 2018 e é formada por cerca de vinte juristas, psiquiatras, sociólogos e outros especialistas.

O presidente da Ciase fez notar que a principal preocupação da comissão neste momento é que a população francesa saiba que estão a ser entrevistadas possíveis vítimas em todo o país para que saibam que podem recorrer a ela.

A vontade da comissão, que deve entregar o relatório com os resultados da sua investigação no primeiro semestre de 2021, é "trazer luz sobre os abusos sexuais de menores" e "compreender a forma como foram tratados esses assuntos".

A Ciase vai ainda inspecionar os arquivos de dioceses e antigos casos divulgados pela imprensa para avaliar as medidas tomadas desde 2000, para fazer chegar à igreja recomendações sobre o tratamento que deve dar a estes casos.

"O nosso trabalho não é revelar os casos que estão sob alçada judicial, mas os invisíveis", acrescentou.

Sauvé, um alto funcionário francês e vice-presidente honorário do Conselho de Estado, a mais alta instância administrativa francesa, explicou que depois de um ano de trabalho compreendeu que "a palavra só se liberta passado um tempo", daí que a maioria dos denunciantes tenham agora mais de 50 anos.

"A partir dos anos 1980 o contacto entre padres e jovens foi mais reduzido, o que explica a escassez de telefonemas de menores de 50 anos", disse.

Recordou ainda que França está agora a seguir o exemplo das comissões criadas há alguns anos em Boston (EUA), Austrália, Bélgica e Holanda, o que ajuda a que não comecem o seu trabalho a partir do zero.

Tendo isso em conta, considerou que se na Bélgica a criação de uma comissão serviu para recolher mais de 2.000 denúncias, em França deveria ter, em proporção, cerca de 10.000.

"Acredito que o movimento cresceu de norte a sul e continuará a crescer", assinalou, em referência à abertura de investigações futuras em países como Espanha ou Itália.

Ainda que até ao momento apenas se tenham realizado cerca de duas dezenas de entrevistas, de duas horas cada uma, a ideia é estender o trabalho a todo o país.

A 29 de novembro tem início uma ronda de conferências informativas e entrevistas em cidades como Lille, Bordéus, Marselha, Toulouse, Nantes ou Estrasburgo.

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