"O trabalho iniciado produziu resultados significativos, mas sem dúvida não representativos da totalidade de abusos sexuais que podem ter sido cometidos num período tão alargado, tendo em conta que 65% da população francesa maior de 18 anos manteve contactos regulares com a igreja católica", disse o presidente da comissão, Jean-Marc Sauvé, em conferência de imprensa citada pela agência EFE.
A Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja (Ciase, na sigla francesa) foi formada a pedido do episcopado e da conferência de religiosos em novembro de 2018 e é formada por cerca de vinte juristas, psiquiatras, sociólogos e outros especialistas.
O presidente da Ciase fez notar que a principal preocupação da comissão neste momento é que a população francesa saiba que estão a ser entrevistadas possíveis vítimas em todo o país para que saibam que podem recorrer a ela.
A vontade da comissão, que deve entregar o relatório com os resultados da sua investigação no primeiro semestre de 2021, é "trazer luz sobre os abusos sexuais de menores" e "compreender a forma como foram tratados esses assuntos".
A Ciase vai ainda inspecionar os arquivos de dioceses e antigos casos divulgados pela imprensa para avaliar as medidas tomadas desde 2000, para fazer chegar à igreja recomendações sobre o tratamento que deve dar a estes casos.
"O nosso trabalho não é revelar os casos que estão sob alçada judicial, mas os invisíveis", acrescentou.
Sauvé, um alto funcionário francês e vice-presidente honorário do Conselho de Estado, a mais alta instância administrativa francesa, explicou que depois de um ano de trabalho compreendeu que "a palavra só se liberta passado um tempo", daí que a maioria dos denunciantes tenham agora mais de 50 anos.
"A partir dos anos 1980 o contacto entre padres e jovens foi mais reduzido, o que explica a escassez de telefonemas de menores de 50 anos", disse.
Recordou ainda que França está agora a seguir o exemplo das comissões criadas há alguns anos em Boston (EUA), Austrália, Bélgica e Holanda, o que ajuda a que não comecem o seu trabalho a partir do zero.
Tendo isso em conta, considerou que se na Bélgica a criação de uma comissão serviu para recolher mais de 2.000 denúncias, em França deveria ter, em proporção, cerca de 10.000.
"Acredito que o movimento cresceu de norte a sul e continuará a crescer", assinalou, em referência à abertura de investigações futuras em países como Espanha ou Itália.
Ainda que até ao momento apenas se tenham realizado cerca de duas dezenas de entrevistas, de duas horas cada uma, a ideia é estender o trabalho a todo o país.
A 29 de novembro tem início uma ronda de conferências informativas e entrevistas em cidades como Lille, Bordéus, Marselha, Toulouse, Nantes ou Estrasburgo.