Bogotá teme que greve geral leve a levante popular e violência
O cientista político Andrés Malamud considera que o Governo colombiano teme que a greve geral convocada para hoje possa transformar-se num levante popular e degenerar em violência.
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Mundo Investigador
"Neste momento, houve a convocação desta greve geral e há muito medo de um levante popular, que poderia resultar em violência. Por enquanto, não sabemos o que vai acontecer, mas o Governo está com muito medo", declarou à Lusa o investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.
A Colômbia é hoje palco de um protesto nacional convocado por sindicatos e movimentos sociais, que levou as autoridades a adotarem várias medidas preventivas, designadamente o encerramento das fronteiras.
O objetivo do Governo é assegurar a manutenção da ordem pública, explicou na segunda-feira a ministra do Interior, Nancy Gutiérrez.
Os sindicatos que convocaram o protesto disseram que saem às ruas para contestar o pacote de reformas do Presidente colombiano, Iván Duque Márquez.
"A Colômbia é um país que lembra muito o Chile, pois parecia muito organizado, embora na Colômbia houvesse o problema com o terrorismo dos paramilitares e dos narcotraficantes disfarçados de revolucionários", indicou o investigador.
"O Presidente tem uma popularidade muito baixa e o acordo de paz (com a guerrilha esquerdista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia/FARC, assinado em 2016) tem uma implementação morosa e pouco eficiente, já que vemos alguns, vamos chamá-los assim, guerrilheiros decidirem voltar para a clandestinidade", acrescentou.
Segundo Malamud, na Colômbia ainda há "o problema da Venezuela, não apenas no contexto da política externa, mas também dentro do seu território, já que o país abriga cerca de um milhão de refugiados dos venezuelanos".
"Estes venezuelanos vivem como podem, trabalham em qualquer coisa, habitualmente ilegal e, muitas vezes, relacionada com o crime. Existe uma desestabilização de algumas regiões territoriais e da política nacional", referiu o cientista político.
Para as organizações sindicais colombianas, as reformas do Governo pretendem acabar com o fundo estatal de pensões, aumentar a idade da reforma e contratar jovens com ordenados inferiores ao salário mínimo, entre outras medidas que o próprio Presidente afirma não terem sido propostas pelo seu Governo.
Outros setores sociais irão aliar-se à mobilização para contestar o acordo de paz do Governo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o assassínio de indígenas e líderes sociais, a corrupção e as privatizações, e alegados incumprimentos dos compromissos do Governo em matéria de recursos para a educação.
A ministra Nancy Gutiérrez, por seu lado, afirma a existência de "setores da oposição que querem desestabilizar o país e o Governo".
Num país altamente polarizado a nível político como a Colômbia, as redes sociais estão a ser incendiadas por polémicas entre apoiantes do protesto de hoje e opositores do mesmo.
"Vários países da América do Sul estão em turbulência não apenas por questões nacionais. Existe um pano de fundo comum nestas crises que os países estão a viver, nomeadamente com o arrefecimento da economia global, principalmente com a economia chinesa em queda, e consequentemente, dos preços dos recursos naturais", assinalou Malamud.
"Os preços destes recursos primários valem menos esta década do que na década passada. A volatilidade dos preços das 'commodities' são o combustível na política sul-americana, sendo que o rastilho é diferente em cada país", acrescentou.
Equador, Chile, Brasil, Venezuela, Paraguai, Peru e Bolívia são alguns dos países latino-americanos que este ano passaram ou estão a passar por grandes protestos, muitas vezes violentos.
Mas também outros países do globo, como o Iraque, o Líbano e o Haiti, passaram ou estão a passar por grandes manifestações populares.
No Chile, os violentos protestos - que em mais de um mês já provocaram mais de 20 mortos, mais de 200 feridos graves e uma forte intervenção policial - fizeram o Governo do Presidente Sebastián Piñera pensar em reavaliar a atual Constituição, que vigora desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Uma negociação alargada entre quase todas as forças do país possibilitou um acordo para que seja realizado um plebiscito em abril de 2020 para definir o futuro da Constituição chilena.
Andrés Malamud lembrou que "a maioria dos chilenos não se veem representados pelos políticos no poder" e a situação no Chile dependerá de como será encaminhada esta elaboração da nova Constituição, entre outros fatores.
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