Philippe Barbarin tentou renunciar após ter sido condenado em primeira instância em março por não ter denunciado um padre pedófilo à polícia. Contudo, o Papa Francisco recusou-se a aceitar a renúncia até que o recurso da decisão fosse apreciado por um tribunal superior ou a condenação transitasse em julgado.
Barbarin, o arcebispo de Lyon, recebeu uma condenação, com pena suspensa de seis meses, por "não denúncia de violência sexual contra menores".
O cardeal justificou agora em tribunal que interpôs recurso da condenação porque "não consegue ver claramente do que é culpado".
O recurso surge numa altura em que há um crescente escrutínio em todo o mundo do papel que a Igreja Católica terá tido em ocultar abusos sexuais de crianças e menores.
O caso que levou à condenação do cardeal envolve o padre francês Bernard Preynat, que admitiu ter abusado de escuteiros entre as décadas de 1970 e 1990.
Vários responsáveis da Igreja foram acusados de encobrir Bernard Preynat por muitos anos, mas algumas das situações tinham o prazo de procedimento criminal prescrito e apenas Barbarin foi condenado.
O advogado do cardeal, Jean-Felix Luciani, sustenta que não há base legal para a condenação de Barbarian e disse ter "esperança que futuramente se faça justiça".
O processo contra Barbarin resulta de uma discussão ocorrida em 2014 com Alexandre Hezez, que contou ao cardeal sobre violência sexual que sofreu na década de 1980 por Preynat nos campos de escuteiros. Hezez acrescentou que o padre não deveria mais dirigir uma paróquia.
Na sentença condenatória em março, o tribunal de Lyon concluiu que Barbarin "para evitar escândalos causados pelos múltiplos abusos sexuais cometidos por um padre (...) preferia correr o risco de impedir a descoberta de muitas vítimas de abuso sexual pelo sistema judicial".
Barbarin na audiência de recurso alegou que seguiu as instruções do Vaticano após a discussão de 2014 com Hezez, sugerindo que não poderia ter feito mais.
Preynat foi transferido para outra paróquia, mas continuou a trabalhar com crianças até sua aposentação em 2015.
Acredita-se que Preynat tenha abusado de pelo menos 85 crianças. O padre será julgado em Lyon em janeiro sob a acusação de agressão sexual a menores.
Em julho, a Igreja Católica da França declarou-o culpado de abusar sexualmente de vários escuteiros ao longo de vários anos, refletindo a tendência crescente da Igreja em reconhecer os casos de abuso sexual de crianças por padres e outros dignitários religiosos.