Luanda Leaks é "oportunidade" para expor corrupção na Guiné Equatorial
O escândalo do 'Luanda Leaks' pode ser uma "janela de oportunidade" para expor a corrupção no regime de Teodoro Obiang na Guiné Equatorial, afirmou hoje o ativista Tutu Alicante, que lamentou o silêncio de muitos países africanos.
© Reuters
Mundo Ativista
"É definitivamente uma janela de oportunidade. Resta saber se o que Angola está a fazer agora, combatendo a corrupção dentro [do país], vai além fronteiras. Mas estamos muito otimistas por ver como este novo Governo foi atrás da família Dos Santos, atrás das pessoas corruptas", disse hoje à agência Lusa Tutu Alicante.
O ativista, diretor da organização EG Justice, espera que o trabalho de Rafael Marques em denunciar a corrupção possa ser alargado ou replicado em outros países, incluindo na Guiné Equatorial.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou em 19 de janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de 'Luanda Leaks', que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
Isabel dos Santos, que foi constituída arguida pelo Ministério Público de Angola por suspeita de má gestão e desvio de fundos da companhia petrolífera estatal Sonangol, disse estar a ser vítima de um ataque político.
Um dos filhos do Presidente Obiang, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo ('Teodorin'), que é igualmente vice-presidente da Guiné Equatorial, tem sido alvo de várias investigações e processos judiciais no estrangeiro por corrupção, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.
No ano passado, as autoridades suíças investigaram 'Teodorin' por corrupção e apreenderam 25 carros no valor de 25 milhões de dólares (23 milhões de euros) e de ter pago uma multa de 1,5 milhões de dólares (1,4 milhões de euros) por custos judiciais.
Foi também condenado por um tribunal francês, em outubro de 2017, nos Estados Unidos da América, em 2014, que resultou no pagamento de 30 milhões de dólares (27 milhões de euros), e em 2018 viu ser apreendidas malas com 1,4 milhões de dólares (1,3 milhões de euros) e 20 relógios de luxo no Aeroporto de Viracopos, no Brasil.
Tutu Alicante, que falou hoje no Instituto Real de Relações Internacionais Chatham House, em Londres, afirmou que o país continua a sofrer do desrespeito pelos direitos humanos e de elevados níveis de corrupção, sobretudo na família e próximos do Presidente Obiang Nguema, no poder há 40 anos.
Portugal e Moçambique têm sido os países mais críticos do regime de Teodoro Obiang na Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), salientou o ativista, lamentando que outros países africanos se mantenham silenciosos sobre o regime.
"Estamos a falar de governos igualmente cleptocratas, como Camarões e Congo Brazzaville. Países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental [CEDEAO], como a Nigéria, Senegal e Gâmbia, não dizem nada porque dizem que é uma questão de soberania", frisou Tutu Alicante.
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