Só compras rápidas, idas ao médico - especialmente se houver suspeitas de vírus -, trabalho caso não haja possibilidade de teletrabalho e curtas sessões de exercício físico que não se devem estender para além de um pequeno perímetro à volta do domicílio são passíveis de justificação sob pena de sanções.
Estas medidas foram anunciadas pelo Presidente da República, Emmanuel Macron, na noite de segunda-feira, mas detalhadas mais tarde pelo ministro do Interior, Christophe Castaner.
"Todas as pessoas que circulem vão ter de ser capazes de justificar os seus trajetos", explicou o ministro.
Outras exceções, como passear os animais de companhia ou prestar assistência aos seus familiares mais próximos também são passíveis de justificar uma saída.
Segundo Hermano Sanches Ruivo, luso-descendente e vereador da Câmara Municipal de Paris, as medidas de manobra deixam alguma "margem de manobra" na circulação na cidade.
"A principal dúvida é que as próprias palavras do Presidente deixam alguma margem de manobra. De facto, não estamos numa realidade italiana e é pena, porque ficaria tudo muito mais claro. Há um sistema que se está a instalar e nós temos a preocupação de ver como as coisas se passam no dia-a-dia", indicou o autarca.
Cada francês ou residente em França que decida sair à rua deve estar munido de um documento que justifique o seu motivo de sair à rua e, caso este motivo não seja válido, incorre numa multa que pode ir de 38 a 135 euros.
Para o autarca luso, há algumas questões do quotidiano que ficam por responder como a abertura especial de escolas para filhos de pessoal médico e as suas deslocações de e para estas estruturas.
Para quem tem profissões essenciais como polícias, médicos ou enfermeiros, as carteiras profissionais vão servir como justificação.
Falta agora saber a reação das pessoas.
"Como é que esta margem de manobra se vai traduzir? Eu estou a ver da minha janela uma esplanada com pessoas sentadas à volta das mesa e pessoas a andar de bicicleta. É como se fosse um domingo frio, mas é terça-feira. Será que não é demasiado permissivo?", explicou.
Mesmo antes da mensagem do Presidente, muitas cidades, incluindo Paris, já tinham decidido fechar os seus parques, locais onde muitos franceses acorreram no fim de semana para se juntarem.
Outros espaços como cafés, restaurantes ou bares, assim como comércios não essenciais, tinham sido fechados a partir de sábado à noite.
As multas vão ser aplicadas por cerca de 100 mil polícias e polícias militares que vão formar em todo o território pontos de verificação para quem se desloca nas ruas das vilas e cidades.
"Vai ser preciso ser firme, mas sobretudo, num primeiro tempo ter convicção e pedagogia. Temos um papel ingrato nesta situação decisiva da saúde pública. Há um aspeto repressivo, mas acho que tudo é uma questão de diálogo" disse David Le Bars, secretário geral do Sindicato de Comissários da Polícia Nacional, em declarações à rádio FranceInfo esta manhã.
Hermano Sanches Ruivo garante que cooperação entre a autarquia de Paris e a prefeitura, órgão máximo local de coordenação da Polícia Nacional, está a correr bem, mas adivinham-se dificuldades.
"Podemos imaginar que um polícia não vai ter exatamente a mesma interpretação que outro e nas redes sociais vai começar a questionar-se porque é que uma pessoa pode sair e outra não", indicou o autarca, esclarecendo que qualquer diferendo sobre a aplicação das sanções será feito pelos tribunais e não pelas autoridades locais.
Mas há ainda questões jurídicas a resolver por parte do Governo. A França teve eleições locais no domingo e se cerca de 30 mil localidades elegeram automaticamente os seus autarcas, em cerca de cinco mil não houve nenhuma lista com mais de 50% dos votos.
Esse é o caso de Paris e outras grandes cidades, sendo assim necessário estender agora o mandato dos atuais autarcas até à marcação da segunda volta das eleições - que deveria acontecer este domingo, mas foi adiada pelo Presidente -, que ainda não tem data prevista.
O coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 infetou cerca de 170 mil pessoas, das quais 6.850 morreram.
Das pessoas infetadas em todo o mundo, mais de 75 mil recuperaram da doença.
O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se por mais de 140 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.
Depois da China, que regista a maioria dos casos, a Europa tornou-se o epicentro da pandemia, com quase 60 mil infetados e pelo menos 2.684 mortos, o que levou vários países a adotarem medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.