Instabilidade e incerteza no Sudão um ano após destituição de al-Bashir

Um ano após a destituição de Omar al-Bashir da presidência do Sudão, o país continua a enfrentar uma situação de instabilidade e incerteza, com as previsões a apontarem para mais um ano de recessão, agravada pelas sanções internacionais.

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Lusa
10/04/2020 11:41 ‧ 10/04/2020 por Lusa

Mundo

Sudão

Al-Bashir, um dos Presidentes africanos durante mais tempo à frente do respetivo país, foi destituído em 11 de abril de 2019, num golpe conduzido por militares após quatro meses de protestos que se tinham iniciado pelo aumento do preço do pão e por uma crescente onda de revolta contra a liderança do então chefe de Estado.

O ex-Presidente sudanês, que liderou o país durante quase trinta anos com punho de ferro, foi então detido numa prisão em Cartum, tendo sido condenado, em dezembro, a dois anos de prisão por corrupção.

O período pós-destituição de al-Bashir não foi pacífico, com a sociedade civil e a população a não ficarem satisfeitas com a tomada de poder pelos militares. Esta divisão motivou novos protestos, resultando em conflitos violentos e que vitimaram centenas de manifestantes.

Em agosto, após um acordo entre sociedade civil e militares, tomou posse o Conselho Soberano, liderado pelo general Abdel-Fattah Burhan, que está encarregue de supervisionar a transição e a liderança do país durante cerca de três anos.

O primeiro-ministro, Abdulla Hamdok, um economista nomeado para o cargo também em agosto de 2019, pretende conduzir o país para uma situação de estabilidade e melhoria financeira.

Para isso, o Governo sudanês precisa de enfrentar uma inflação crescente, uma elevada dívida pública e a resolução de conflitos com grupos rebeldes.

Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), a economia do país da África Central registou uma recessão de 2,4% em 2019, "impulsionada por uma contração no setor dos serviços e no investimento em imobiliário e serviços empresariais".

Para este ano, a instituição financeira africana estima uma nova recessão de 1,6%, assim como uma outra quebra de 0,8% em 2021. O BAD indica "a situação política, a tépida procura doméstica e um fraco investimento no setor privado" como as razões para esta recessão no país.

Após registar uma inflação de 50,6% em 2019, o BAD estima que esta alcance os 61,5% em 2020.

Uma das maiores dificuldades registadas pela economia sudanesa resulta da presença do país na lista de "países que apoiam o terrorismo", dos Estados Unidos da América.

Num documento datado de 07 de fevereiro, os EUA assinaram um acordo para a retirada do Sudão desta lista, que excluía a nação sudanesa da economia global e limitou a capacidade desta em receber empréstimos de instituições como o Fundo Monetário Internacional.

A retirada da lista surgiu após Cartum ter aceitado pagar uma compensação às vítimas de um ataque contra o navio da Marinha de Guerra dos Estados Unidos, USS Cole, em 2000, que fez 17 mortos e foi reivindicado pela Al-Qaeda. Segundo as autoridades judiciais norte-americanas, o ataque foi executado por dois extremistas treinados no Sudão.

O Sudão negou constantemente a responsabilidade, mas aceitou o pagamento desta compensação com o objetivo de ser removido da lista.

Assim, a administração espera que o levantamento, em março, das sanções aplicadas a 157 empresas sudanesas permita a atração de investimento estrangeiro.

Em termos de segurança, além de uma alegada tentativa de assassinato contra o primeiro-ministro em março, o Sudão continua a testemunhar conflitos em zonas como o Darfur.

Na região, onde o conflito está presente há mais de 17 anos, as Nações Unidas estimam que já tenham morrido mais de 300.000 pessoas.

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