A revista católica espanhola Vida Nueva publica, esta sexta-feira, aquele que é o "plano para ressuscitar" a humanidade após a pandemia de Covid-19, da autoria do Papa Francisco. Um extenso texto que começa com um apelo à "alegria" apesar de todas as circunstâncias.
O Sumo Pontífice assume que tal pode ser entendido como "uma provocação, e inclusive, uma atitude de mau gosto diante das graves consequências" do surto do novo coronavírus, mas sustenta que é essencial para ultrapassar esta batalha.
"Não são poucos os que poderiam pensá-lo, assim como os discípulos de Emaús, como um gesto de ignorância ou de irresponsabilidade. Como as primeiras discípulas que foram ao túmulo, vivemos rodeados por um clima de dor e incertezas que faz com que nos perguntemos 'Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?'", escreve.
"Como faremos para levar adiante esta situação que nos transborda completamente? O impacto de tudo o que acontece, as graves consequências que se apresentam e vislumbram, a dor e o luto pelos nossos entes queridos nos desorientam, desencorajam e paralisam. É o peso da pedra do túmulo que se impõe diante do futuro e que ameaça com o seu realismo, sepultar toda a esperança. É o peso da angústia das pessoas vulneráveis e idosas que passam a quarentena na absoluta solidão, é o peso das famílias que não sabem como conseguir um prato de comida em suas meses, é o peso dos profissionais da saúde e servidores públicos que estão exaustos e desanimados… Esse peso que parece ter a última palavra", prossegue.
No entanto, Jorge Mario Bergoglio refere que, "se há algo que aprendemos neste tempo é que ninguém se salva sozinho. As fronteiras caem, os muros desabam, e todos os discursos fundamentalistas se dissolvem diante de uma presença quase imperceptível que manifesta a fragilidade à qual estamos sujeitos".
"Este é o tempo propício do Senhor, que nos pede para não nos conformarmos nem ficarmos satisfeitos e menos ainda justificarmo-nos com lógicas substituíveis ou paliativas que nos impeçam de assumir o impacto e as graves consequências que estamos vivendo", refere.
O Papa Francisco escreve que esta é a altura ideal para "unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral", até porque "uma emergência como a da Covid-19 é derrotada, em primeiro lugar, com os anticorpos da solidariedade". Uma lição que, assegura, "romperá todo o fatalismo no qual estávamos imersos e permitirá voltar a sentirmo-nos artífices e protagonistas de uma história comum e, assim, responder conjuntamente a tantos males que atingem milhões de irmãos ao redor do mundo".
"Se atuarmos como um só povo, unido diante de outras epidemias que nos rodeiam, podemos ganhar um impacto real. Seremos capazes de atuar com responsabilidade diante da fome que muitos sofrem, sabendo que temos alimentos para todos? Continuaremos olhando para o outro lado com um silêncio cúmplice diante destas guerras fomentadas por desejos de domínio e de poder? Estaremos dispostos a mudar os estilos de vida que mergulham tantos na pobreza, promovendo e animando-nos a levar uma vida mais austera e humana que possibilite uma divisão equitativa dos recursos?", questiona.
"Adotaremos como comunidade internacional as medidas necessárias para deter a devastação do meio ambiente ou seguiremos negando a evidência? A globalização da indiferença seguirá amenizando e tentando o nosso caminho… Esperemos que nos encontre com os anticorpos necessários da justiça, da caridade e da solidariedade. Não tenhamos medo de viver a alternativa da civilização do amor, que é “uma civilização da esperança: contra a angústia e o medo, a tristeza e o desalento, a passividade e o cansaço. A civilização do amor se constrói no dia a dia, de modo ininterrupto. Pressupõe o esforço comprometido de todos", completa.