Polícias e socorristas nos EUA regressam com medo de segunda infeção

Polícias, bombeiros, paramédicos e agentes penitenciários dos Estados Unidos da América (EUA), sobreviventes da covid-19, regressam aos locais de trabalho, com receios de contraírem a doença novamente ou colocarem colegas e família em perigo.

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Lusa
28/04/2020 17:57 ‧ 28/04/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

 

Os assistentes de socorro em situações de urgência, chamados 'first responders', estão à distância de uma chamada 911 (a linha de emergência nos EUA) de poderem ficar infetados e transmitir o novo coronavírus em locais onde prestam socorro.

Para agentes de segurança, com máscaras e luvas azuis descartáveis penduradas nos cintos, o novo coronavírus é uma "bala invisível" para a qual não houve treino na sua profissão.

Os trabalhadores que já conseguiram recuperar da covid-19 estão a voltar ao serviço, sempre na linha da frente -- de volta à cena do crime, de volta às ambulâncias, de volta às prisões.

A política estabelecida durante a pandemia ordena que os trabalhadores que já não apresentam sintomas da doença devem voltar ao trabalho o mais rápido possível.

Regressam a tossir, depois de terem perdido peso, ainda sem a certeza de que estão imunes à covid-19 depois de terem vencido o vírus uma vez.

Segundo a agência AP, Ravin Washington, uma delegada do xerife do condado de Harris, no Texas, estava a trabalhar num assalto, quando, de repente, sentiu um grande peso no peito e conduziu até casa da irmã, quase sem conseguir manter as mãos no volante e sem entender o que se passava.

A certeza chegou a 25 de março, depois de fazer o teste com uma zaragatoa nasal que "parecia que tocava no cérebro".

O resultado para o coronavírus deu positivo e colocou Ravin Washington entre os primeiros infetados da equipa do xerife.

Em isolamento, a temperatura "disparou" e o estômago deu voltas. Durante dias, a mulher de 28 anos não sentia o paladar e não conseguia levantar-se da cama.

"As pessoas não querem ficar perto de ti e não te querem tocar", disse Ravin Washington à AP.

A delegada preocupava-se que os colegas não quisessem o seu regresso depois de ficar curada. Este mês, quando regressou ao trabalho, a situação estava revertida: os colegas até a abraçaram.

"As pessoas sentem que 'tu tens os anticorpos, és a cura'", refletiu.

De volta à patrulha, Washington tem o peso na cintura com uma arma de choque, uma arma de fogo e algema, mas a sua segurança depende também das luvas e máscara.

"Parece que estás a arriscar a vida muito mais agora", disse.

Em abril, o paramédico Alex Tull, do corpo de bombeiros de Nova Iorque, ficou sem fôlego depois de subir alguns lanços de escadas. Com uma tosse forte e demorada e com dores no peito, fez um raio-X que mostrava uma inflamação nos pulmões.

Tull, de 38 anos, disse que se sentia culpado por estar em casa durante duas semanas, a descansar em frente à televisão, enquanto os colegas arriscavam a vida.

"Porque é que tinha de me acontecer a mim? Eu quero estar lá fora. Quero sair e ajudar", exclamou o paramédico com dez anos de experiência.

Cerca de um quarto dos 4.300 funcionários dos serviços de emergência médica da cidade de Nova Iorque já ficaram infetados com a covid-19, segundo a agência AP. No corpo de bombeiros da cidade de Nova Iorque, cerca de 700 funcionários testaram positivo e oito morreram.

Sem a certeza de estar imune a contrair ou espalhar a doença novamente, Tull temeu uma segunda infeção pelo vírus: "Será que o meu corpo está preparado para a segunda vez? Não sei. É assustador", receou.

Kirsten Ziman, chefe de polícia e comandante de patrulha na cidade de Aurora, no Estado de Illinois, passou horas numa sala de conferências com outras pessoas, a planear maneiras de manter os seus 306 polícias a salvo do novo coronavírus.

Os novos procedimentos no trabalho para os agentes passaram a incluir mais tempo fora da esquadra, afastados uns dos outros, realizar videochamadas em vez de reuniões presenciais, utilizar viaturas individuais, e ter detetives a resolver casos remotamente.

A segurança dos polícias, afinal, estava em não contactar de perto com a chefe, que contraiu o novo coronavírus pela mesma altura que a sua muler (detetive) e o presidente de câmara de Aurora, no Estado de Illinois.

Segundo a AP, a transmissão do vírus poderá ter acontecido durante as reuniões de planeamento.

"Se tivéssemos de ser os cordeirinhos de sacrifício", disse Ziman, "colocando esses planos em prática para manter os nossos oficiais em segurança, eu aceitava prontamente".

Sonia Munoz, uma assistente de custódia da prisão Twin Towers, em Los Angeles, terá contraído o vírus no hospital de 184 camas para os prisioneiros, infetando também a irmã mais nova e o pai.

Munoz, de 38 anos, está agora a salvo e pesa menos cinco quilos. Transferida para uma posição de trabalho dentro de um escritório e a trabalhar sozinha entre quatro paredes, sabe, no entanto que vai ter de regressar para a zona dos detidos.

 "Terei que voltar para a boca do leão", considerou a assistente.

A sua mãe, a sobrinha de três anos e avó de 94 anos escaparam à doença, mas Munoz tem preocupações sobre uma nova infeção.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 211 mil mortos e infetou mais de três milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos (56.253) e mais casos de infeção confirmados (cerca de um milhão).

 

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