Pandemia ameaça santuários de vida selvagem no Uganda
Com pouco mais de 100 casos de covid-19, no Uganda as autoridades multiplicam esforços para evitar que a doença atinja os santuários de vida selvagem, principais atrações e fontes de receita do país.
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Mundo Covid-19
Dezenas de guardas mantêm-se no interior do Parque Nacional do Bosque de Bwindi, no sudoeste do Uganda, dormindo em tendas e vigiando os gorilas em permanência.
As autoridades receiam que o vírus possa infetar os animais, que têm um código genético parecido com os humanos, com consequências fatais.
O parque, inscrito no Património Mundial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), é refúgio de quase metade dos gorilas de montanha existentes em todo o mundo, uma espécie em risco de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
O Governo do Uganda confirmou 101 infeções de covid-19, tendo proibido as deslocações internas e fechado as fronteiras, entre outras medidas.
Guias de safari, condutores, guardas florestais, conservadores, trabalhadores de hotéis e vendedores de recordações olham para o futuro com preocupação.
"O hotel está em silêncio, tenho a sensação de que os animais ainda se aproximam mais", diz Mary Namutono.
Funcionária há anos do hotel do Parque Nacional da Rainha Isabel, no oeste do país, Namutono recebeu hoje a "visita" de um hipopótamo, que chegou mesmo por baixo da janela do quarto, onde agora passa a maior parte do tempo.
Há semanas que os únicos quartos ocupados são os dos empregados.
A interrupção inesperada do turismo é um golpe para os trabalhadores do setor, para os programas de conservação da natureza e para a economia nacional, muito dependente da indústria do turismo.
De acordo com o Governo, o turismo no Uganda gerou cerca de 1.400 milhões de dólares (1.293 milhões de euros) em 2017, representando cerca de 10% do Produto Interno Bruto.
O número de turistas cresceu desde 850 mil turistas em 2008 para 1,4 milhões em 2017.
A supressão do turismo é também um grande obstáculo ao trabalho do santuário de rinocerontes brancos Ziwa (no centro), aberto desde 2005.
"Cerca de 90% do nosso orçamento é proveniente das receitas do turismo", apontou a sua diretora, Angie Genade.
O santuário de Ziwa emprega 148 trabalhadores que escoltam durante 24 horas cada grupo de rinocerontes brancos, única forma de proteger estes mamíferos, que são dos mais procurados no mercado negro.
A responsável explicou que foi lançada, nas redes sociais, uma campanha de recolha de fundos, adiantando que se não conseguir mais dinheiro, o programa terá de encerrar.
Mas este não é o único projeto de conservação em risco no Uganda.
A agência governamental que gere os 10 parques nacionais do país, a Autoridade para a Vida Selvagem do Uganda, depende quase exclusivamente das receitas do turismo.
Apesar de admitir que a falta de visitantes afetará as suas atividades, a agência adianta que conseguiu mobilizar fundos para manter os funcionários, proteger os espaços naturais e minimizar os conflitos entre comunidades e animais até julho de 2021.
"Será complicado, mas continuaremos a proteger as reservas naturais", disse o porta-voz da agência Bashir Hangi.
"A hospitalidade dos ugandeses e as atrações turísticas permanecerão intactas. Quando a crise terminar, estaremos preparados para dar as boas-vindas aos turistas", acrescentou.
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