A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW), o centro de Saúde Humanitária e o centro de Saúde Pública e Direitos Humanos - ambos institutos da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos -, alertam que esta pandemia de covid-19 poderá comprometer ainda mais a saúde dos venezuelanos e contribuir para a disseminação regional da doença, causada pelo novo coronavírus.
Até segunda-feira, a Venezuela tinha 1.121 casos confirmados de covid-19 e 10 mortes.
O número real é provavelmente muito maior, dada a disponibilidade limitada de testes confiáveis, à transparência limitada e à perseguição de profissionais médicos e jornalistas que relatam esse problema, alertam as organizações.
Para a HRW e os centros norte-americanos, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e o subsecretário-geral das Nações Unidas para assuntos humanitários e coordenador de ajuda de emergência, Mark Lowcock, devem liderar os esforços para resolver esse problema.
Os membros do Grupo Lima, os Estados Unidos e a União Europeia (UE) devem pressionar as autoridades venezuelanas sob Nicolás Maduro a abrir imediatamente o país para receber uma resposta humanitária liderada pela ONU em larga escala com objetivo de impedir a disseminação catastrófica da doença covid-19 no país, sublinharam a HRW e os centros da Universidade Johns Hopkins.
É extremamente importante, também para as entidades de saúde e a ONG, que os Governos estrangeiros despolitizem a ajuda e que o Governo dos EUA garanta que as sanções existentes não contribuam para a crise ou atrapalhem os esforços humanitários.
A sobrelotação em áreas de baixo rendimento e prisões, bem como o acesso limitado generalizado à água em hospitais e residências, torna provável que o novo coronavírus se espalhe rapidamente dentro do país.
O enorme êxodo de venezuelanos e as migrações através das fronteiras da Venezuela devido à pandemia aumentam o risco de o vírus se espalhar ainda mais.
Segundo a HRW e os centros Johns Hopkins, o sistema de saúde da Venezuela entrou em colapso. A escassez de medicamentos e suprimentos de saúde, as interrupções de serviços básicos nos centros de saúde e a emigração de profissionais de saúde levaram a um declínio progressivo da capacidade operacional da assistência médica.
A Venezuela está entre os países menos preparados para mitigar a propagação de uma epidemia no Índice Global de Segurança em Saúde de 2019, tendo ficado em 180º lugar entre os 195 estudados.
Em novembro e dezembro de 2019, uma equipa da Human Rights Watch e dos centros Johns Hopkins realizaram entrevistas profundas - por telefone - com prestadores de serviços de saúde em 14 hospitais públicos em Caracas, capital e cinco estados, e outras entrevistas.
Embora a maior parte da investigação tenha sido conduzida antes da pandemia, as descobertas dão fortes indícios de que o sistema de saúde está particularmente mal equipado para lidar com a covid-19, principalmente devido à escassez de água e falhas de saneamento e higiene.
Os médicos e enfermeiros entrevistados disseram que sabão e desinfetantes são praticamente inexistentes nas clínicas e hospitais. À medida que a inflação aumentou e os salários foram desvalorizados, tornou-se cada vez mais difícil para os profissionais trazerem os seus próprios suprimentos.
Os hospitais de Caracas sofrem escassez regular de água. Em hospitais remotos, a escassez de água dura de semanas a meses. Os pacientes e os funcionários são obrigados a trazer a sua própria água para beber, lavar antes e depois dos procedimentos médicos, limpar os suprimentos cirúrgicos e, às vezes, lavar as casas de banho.
Provavelmente, a taxa de mortalidade da covid-19 será maior que a média na Venezuela, onde não existe a capacidade para tratamento complexo devido à falta de equipamento básico de raios-X, exames laboratoriais, leitos de terapia intensiva e ventiladores, e onde a falta de acesso a água impede os profissionais lavarem as mãos, o que é vital para limitar a propagação do vírus.
A resposta das autoridades venezuelanas é severamente prejudicada pela falta de publicação de dados epidemiológicos, o que é essencial para resolver uma pandemia; também pelo assédio e perseguição a jornalistas, profissionais de saúde e outros que alertam para a deterioração das condições em hospitais, avisam as organizações.
A crise humanitária, política e económica na Venezuela levou à maior migração da região nas últimas décadas. Mais de cinco milhões de venezuelanos deixaram o país, levando consigo doenças que foram erradicadas na região, como o sarampo.
As autoridades venezuelanas adotaram algumas medidas tardias para, em teoria, tentar responder à pandemia. O Governo declarou estado de emergência em 13 de março e instituiu uma quarentena em todo o país em 17 de março, que restringe o movimento e determina o fechamento de todos os negócios, exceto os essenciais.
Em 17 de março, o Governo Nicolás Maduro solicitou um empréstimo emergencial de cinco mil milhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) para combater a covid-19, que o FMI rejeitou, afirmando que não havia "clareza" em relação ao "reconhecimento oficial do Governo Maduro pela comunidade internacional".
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 344 mil mortos e infetou mais de 5,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 2,1 milhões de doentes foram considerados curados.