OMS lamenta expulsão da representante na Guiné Equatorial

A Organização Mundial de Saúde (OMS) garantiu hoje que não falsificou os dados sobre o número de casos de covid-19 na Guiné Equatorial e considerou "lamentável" a decisão governamental de expulsar a representante no país.

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Lusa
05/06/2020 16:55 ‧ 05/06/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

"O Ministério das Relações Exteriores e Cooperação da Guiné Equatorial informou o departamento regional africano da OMS de que a sua representante no país, Triphonie Nkurunziza, tem de deixar Malabo assim que possível; é uma decisão lamentável", escreve a OMS em comunicado.

"Nkurunziza é uma experiente perita de saúde, líder e gestora, que liderou o programa de saúde materna no departamento africano durante muitos anos e foi ministra da Saúde no seu país", o Burundi, escreve a OMS, garantindo "toda a confiança na sua competência, empenho e integridade".

No comunicado, a OMS salienta que "houve um mal entendido sobre os números, que a OMS se ofereceu para clarificar" e acrescenta: "A OMS quer declarar que Triphonie Nkurunziza não falsificou os números da covid-19".

Na nota, os peritos dizem que vão "continuar a apoiar a Guiné Equatorial e o povo de todos os Estados-membros na resposta à covid-19, bem como noutras questões de saúde prioritárias, em linha com os regulamentos de saúde internacionais" e concluem que "a organização está empenhada em melhorar a saúde de todos e em salvar vidas, em todo o lado e em todas as circunstâncias".

O comunicado da OMS surge depois de a diretora regional da OMS para África ter alertado que a Guiné Equatorial é dos países mais afetados pela propagação da pandemia face ao número de habitantes e confirmado a substituição da representante no país.

"Segundo os números que temos, a Guiné Equatorial é dos países mais afetados pela propagação da pandemia da covid-19 tendo em conta a relativamente pequena população; as nossas estimativas apontam para mais de mil casos", disse Matshidiso Moeti, durante uma conferência organizada pelo Fórum Económico Mundial, na quinta-feira.

Em resposta a questões colocadas pela Lusa relativamente à evolução da pandemia na Guiné Equatorial, Moeti salientou o "trabalho que está a ser feito na implementação das medidas de saúde pública defendidas pela OMS", afirmando que a organização está a trabalhar "muito de perto com o Governo para estabelecer medidas de isolamento, gestão e pesquisa de casos".

"É relativamente cedo na evolução da situação, mas por habitante temos um grande número de casos", alertou a responsável.

Sobre a iniciativa do Governo da Guiné Equatorial, que exigiu a substituição da representante da OMS no país, Moeti confirmou o pedido e admitiu que haverá uma substituição, mas não adiantou mais detalhes.

"Confirmo que o Governo pediu para mudarmos a representante e estamos a trabalhar para fazer isso; estamos empenhados em trabalhar com o Governo para apoiar as pessoas, de forma a que sejam protegidas da pandemia e para garantir que a saúde da população é melhorada com o apoio da OMS", respondeu.

Em carta datada de 26 de maio, a que a agência Lusa teve acesso, o ministério das Relações Exteriores e Cooperação da Guiné Equatorial transmite ao escritório regional para África da OMS, com sede em Brazzaville, "a urgente necessidade de pôr termo às funções" de Triphonie Nkurunziza como representante residente da organização no país.

O ministério pede ainda à organização para "proceder à sua retirada imediata de Malabo" e recomenda que seja nomeada outra pessoa para o lugar.

Na carta, Malabo não indica qualquer razão para o pedido, mas, na sexta-feira, perante o senado, o primeiro-ministro da Guiné Equatorial, Pascual Obama Asué, acusou a representante da OMS de "ter falsificado os dados de pessoas contaminadas" com o novo coronavírus.

"Não temos um problema com a OMS, temos um problema com a representante da OMS em Malabo", acrescentou durante a sessão transmitida pela televisão pública.

Na Guiné Equatorial, a saída de Triphonie Nkurunziza está a ser diretamente ligada à considerada "gestão caótica e desastrosa" da resposta governamental à pandemia de covid-19.

"A OMS era uma testemunha incómoda da falsificação dos dados dos contágios e das mortes por covid-19", disse à agência Lusa o médico equato-guineense Wenceslao Mansogo, adiantando que os números apresentam "incongruências desde o início".

Em causa estará, segundo fontes locais, o facto de a responsável da OMS continuar a atualizar os dados relativos à pandemia na Guiné Equatorial depois de o Governo ter alegadamente optado por deixar de tornar esses dados públicos diariamente.

Em África, há 4.756 mortos confirmados em quase 170 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 387 mil mortos e infetou mais de 6,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

Mais de 2,8 milhões de doentes foram considerados curados.

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