Pandemia tem 100 dias mas já matou meio milhão e mudou 'normalidade'

Quase meio milhão de mortos e oito milhões de infetados é o balanço mais direto que a covid-19 causou em menos de seis meses, desde que foi detetada, e quando passam 100 dias desde que foi considerada uma pandemia.

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Lusa
16/06/2020 08:42 ‧ 16/06/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

 

Mas o impacto é muito maior: mudou a forma como as pessoas se relacionam, como trabalham, como comunicam, as causas pelas quais lutam e, sobretudo, as preocupações sobre o que vai ser a vida das novas gerações.

As mudanças começaram a 31 de dezembro passado, quando foi anunciado ter sido detetada uma doença misteriosa em 41 pessoas, na China.

Inicialmente, parecia um problema localizado e ligado a um mercado da cidade chinesa de Wuhan, conhecido por vender animais vivos para comer.

No final de 2019, as autoridades da China anunciaram à Organização Mundial da Saúde (OMS) ter em mãos um conjunto de casos de pneumonia viral de causa desconhecida em Wuhan, Hubei, e uma investigação foi iniciada no início de janeiro.

Mais tarde, descobriu-se que a primeira pessoa conhecida com sintomas adoecera em 01 de dezembro de 2019 e que essa pessoa não tinha ligações conhecidas com o mercado de Wuhan.

O vírus que causou o surto foi identificado como SARS-CoV-2 e relacionado com coronavírus detetados em morcegos e pangolins.

A primeira morte causada por este novo coronavírus aconteceu na China, precisamente em Wuhan, em 09 de janeiro, mas menos de um mês depois, em 02 de fevereiro, morria a primeira pessoa fora da China, um homem das Filipinas.

Oito dias mais tarde, em 09 de fevereiro, foi registada a primeira vítima mortal fora do continente asiático, já em França. A Europa abriu os olhos e tentou não entrar em pânico.

Já em 30 de janeiro, a OMS tinha declarado o surto como uma emergência de saúde pública de interesse internacional, numa altura em que se contabilizavam quase oito mil casos confirmados em 19 países, mas, em 11 de março, a organização reconheceu a disseminação da covid-19 como uma pandemia.

Esse dia será, provavelmente, o 'Dia D' a história da covid-19, já que, de imediato, o mundo se preparou para mudanças drásticas na "normalidade" que, em breve, deixaram as ruas vazias, as escolas caladas, as empresas em suspenso e as pessoas em confinamento.

Se a geração que tem hoje 40 anos pergunta entre si o que cada um estava a fazer no 11 de setembro de 2001, os seus filhos irão, com certeza, questionar-se sobre como viveram o grande confinamento de 2020.

Em 13 de março já a OMS considerava a Europa como o centro ativo da pandemia e rapidamente a Itália ultrapassou a China como o país com mais mortes.

Não demorou muito, no entanto, até os Estados Unidos ultrapassarem, quer a China, quer mesmo a Itália, como o país com o maior número de casos confirmados no mundo. Antes do final desse mês, Nova Iorque tornou-se a cidade do país com mais casos, sendo que a maior parte tinha origem em viajantes europeus e não diretamente na China ou em qualquer outro país asiático.

A declaração de pandemia pela OMS - que cumpre 100 dias na próxima sexta-feira - levou muitos países a restringirem a livre circulação e reporem controlos nas fronteiras, a imporem quarentenas e toques de recolher e a aconselharem o confinamento voluntário em casa.

Em 26 de março, 1,7 mil milhões de pessoas em todo o mundo estavam sob algum tipo de restrição, número que aumentou para 3,9 mil milhões de pessoas na primeira semana de abril, ou seja, mais de metade da população mundial.

No final de abril, cerca de 300 milhões de europeus, 200 milhões de latino-americanos, 300 milhões de norte-americanos, 100 milhões de filipinos e 1,3 mil milhões de indianos estavam trancados em casa.

E a "normalidade" tornou-se "a nova normalidade": milhões de pessoas em teletrabalho provaram que o futuro não será tão presencial, milhões de escolas fechadas deixaram pais a lidar com crianças e adolescentes sem aulas nem possibilidade de sair à rua e obrigaram a recorrer às tecnologias, criando um grande abismo entre alunos com e sem internet ou computador.

Os receios de sair à rua aumentaram e muitas palmas foram batidas a quem tinha de continuar a marcar presença: os profissionais de saúde, os jornalistas, os polícias, os bombeiros.

As varandas passaram a ser zonas de convívio entre vizinhos, à falta da família e amigos, os transportes públicos e privados ficaram parados, diminuindo os níveis mundiais de poluição, e as datas mais importantes das várias religiões - como a Páscoa dos cristãos ou o Ramadão dos muçulmanos - foram passadas em isolamento e sem qualquer festa.

Tal como a pandemia de gripe espanhola, que matou entre 50 e 100 milhões de pessoas em 1918 e 1919, alterou os hábitos de higiene para sempre - ainda hoje as pessoas tapam a boca quando tossem e evitam cuspir para o chão - a covid-19 também criou mudanças.

Tornou-se habitual a desinfeção de superfícies, das mãos e da roupa, o uso de máscaras em locais congestionados e a preferência por videoconferências em vez de reuniões presenciais.

A pandemia deslocou o seu epicentro para a América Latina em maio e, no dia 13, a OMS divulgou a existência de mais de 400.000 casos de infeção e mais de 23.000 mortes no subcontinente, sublinhando o crescimento exponencial de contágios no Brasil.

Em 20 de maio, o Brasil registou 1.179 mortes num só dia, totalizando quase 18.000 mortes e 272.000 casos, e tornou-se o terceiro país com mais infetados, a seguir à Rússia e aos Estados Unidos.

A forma como o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, lidou com o surto, referindo-se à doença como "pequena gripe" e comentando o número de mortos com frases como "toda a gente morre" gerou controvérsia, como, aliás, aconteceu com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chegou a aconselhar as pessoas a beberem desinfetante e garantiu estar orgulhoso por o país liderar o número de casos de infeção.

A OMS não escondeu, enquanto via a pandemia alastrar-se rapidamente pelo Oriente ao Ocidente, que o continente africano era a sua maior preocupação.

Com sistemas de saúde frágeis ou invisíveis, os países africanos foram identificados como zonas de fácil propagação da doença e difícil cura.

Métodos de confinamento usados no resto do mundo encontram muitos obstáculos em países onde as pessoas dependem mais do rendimento do dia a dia para alimentar as suas famílias.

Atualmente contam-se cerca de 6.500 mortos confirmados e mais de 242 mil infetados em 54 países de África, a maioria dos quais afeta seis países: África do Sul, Nigéria, Gana, Marrocos, Egito e Argélia.

No entanto, acredita-se que haja uma subnotificação generalizada em outros países africanos com sistemas de saúde mais pobres.

 

 

 

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