Organização denuncia tortura em prisões secretas no Iémen

Uma organização de direitos humanos do Iémen acusou hoje as duas partes em conflito na guerra civil de detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados e tortura de centenas de pessoas nos últimos quatro anos ao longo de todo o país.

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Lusa
30/06/2020 16:05 ‧ 30/06/2020 por Lusa

Mundo

Iémen

A Organização Mwatana para os direitos humanos disse ter registado desde abril de 2016 cerca de 1.600 casos de detenções arbitrárias, 770 casos de desaparecimentos forçados, 344 casos de tortura e pelo menos 66 mortes em centros de detenção não declarados e prisões secretas controladas pelas partes em conflito.

A entidade divulgou um relatório com 87 páginas que identifica pelo menos 11 centros de detenção não oficiais ao longo do Iémen onde "a tortura e outras formas de tratamento cruel, inumano e degradante são particularmente prevalentes".

O conflito no Iémen agravou-se em 2014 quando os rebeldes Huthi, apoiados pelo Irão, se apoderaram da maioria da região norte do país e passaram a controlar a capital Sanaa, forçando ao exílio o Governo internacionalmente reconhecido do Presidente Abd Rabbo Mansour Hadi.

No ano seguinte, a Arábia Saudita e outros Estados do Golfo formaram uma coligação que desde então intervém no país vizinho contra os Huthis, com o anunciado objetivo de travar o que consideram como uma crescente influência do Irão no Iémen.

O conflito já provocou mais de 100.000 mortos e provocou o maior desastre humanitário à escala mundial, com mais de três milhões de deslocados e dois terços dos 28 milhões de habitantes dependentes de ajuda alimentar para sobreviverem.

O relatório acusa os Huthis e as milícias treinadas e financiadas pelos Emirados Árabes Unidos como responsáveis pela maioria dos abusos. Às forças leais ao Governo reconhecido pela ONU são atribuídas pelo menos 65 casos de tortura e duas dezenas de mortes em campos de detenção, indica o grupo.

O documento, intitulado "Na Escuridão: Detenção Abusiva, Desaparecimento e Tortura nas Prisões Não Oficiais do Iémen" foi baseado em 2.566 entrevistas a antigos detidos, testemunhas, familiares de detidos, ativistas e advogados, para além de relatórios médicos e provas fotográficas, disse o grupo.

Responsáveis oficiais das duas partes em conflito não responderam aos pedidos para comentar estas informações, refere a agência noticiosa Associated Press (AP).

O grupo assinalou que duas dezenas de pessoas morreram e 140 foram torturadas em centros de detenção Huthi. Os rebeldes utilizam a sua agência de segurança e de informações em Sanaa e edifícios de habitações na cidade de Tais como prisões secretas onde os detidos são espancados e submetidos a diversos géneros de tortura, incluindo extração das unhas e choques elétricos.

Uma investigação da AP em dezembro de 2018 indicava que milhares de iemenitas permaneciam prisioneiros dos Huthis, muitos sendo alvo de tortura extrema como espancamento da cara com bastões, os punhos ou órgãos genitais presos a correntes durante semanas, ou queimados com ácido.

Na cidade portuária de Aden (sul), controlado pelas milícias separatistas apoiadas pelos Emirados Árabes Unidos, o grupo de direitos humanos frisou que o Conselho de Transição do Sul utilizou duas caves e quartos da agência de contraterrorismo como centro de detenção. O relatório documenta pelo menos 18 casos de tortura e duas mortes nesta prisão secreta.

Em 2018 a AP também revelou que centenas de iemenitas, alvo de operações "antiterroristas" por forças apoiadas pelos Emirados, foram submetidos a tortura e abuso sexual destinados a brutalizar os detidos e extrair "confissões" no âmbito da "campanha antiterror" apoiada pelos Estados Unidos.

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