Cisjordânia: Palestinianos terão sido "detidos por apoio à anexação"
Palestinianos que declararam à televisão israelita serem favoráveis à anexação de partes da Cisjordânia ocupada pelo Estado hebreu foram recentemente detidos pela Autoridade Palestiniana, segundo fontes concordantes, desmentidas por Ramallah.
© Reuters
Mundo Território
Numa reportagem divulgada no início de junho pelo canal 13, palestinianos da Cisjordânia expressaram esperança de se tornarem israelitas se o Estado hebreu anexasse as suas terras de acordo com um plano da administração norte-americana, uma posição contrária à da Autoridade Palestiniana e da maioria dos palestinianos, segundo sondagens.
Algumas das pessoas questionadas na reportagem não mostravam o rosto e outras mostravam-no sem, contudo, revelar a sua identidade.
"Quero um bilhete de identidade israelita", declarou um dos palestinianos questionados, enquanto um outro afirma não ver "os israelitas como inimigos", adiantando "é o seu governo que é um inimigo". Outro ainda diz "escolher Israel" e não ter medo de falar publicamente.
Segundo o jornalista israelita que fez a reportagem, Tzvi Yehezkeli, pelo menos seis pessoas que falaram a favor da anexação foram detidas pela Autoridade Palestiniana após a transmissão.
Contactadas pela agência France-Presse, várias fontes dos serviços de segurança da Autoridade Palestiniana rejeitaram tais afirmações.
"Não detivemos ninguém por ligação a esse assunto", afirmou à AFP o porta-voz do Ministério do Interior palestiniano, Ghassan Nimr.
O porta-voz da polícia palestiniana, Ltuay Arzeikat, também desmentiu ter sido detido alguém em conexão com a reportagem.
O jornalista afirma ter sido alertado pelas famílias dos detidos. Correspondente nos territórios palestinianos há quase 25 anos, Yehezkeli afirma sentir-se "responsável pelas detenções".
Contactado pela AFP, um familiar de uma das pessoas detidas disse que ela esteve presa várias semanas e que vai a tribunal em breve, segundo ela por ter falado a um meio de comunicação israelita e criticado a Autoridade Palestiniana.
O familiar disse que ele próprio é a favor da anexação apesar "do medo" de ser detido e afirmou ter a esperança de Israel lhes dar a nacionalidade.
Estas declarações contrastam com as expressas nas numerosas manifestações palestinianas contra o plano dos Estados Unidos para o Médio Oriente, que propõe a anexação por Israel dos colonatos e do vale do Jordão na Cisjordânia, um território palestiniano ocupado desde 1967 pelo Estado hebreu.
Segundo um inquérito de opinião recente realizado pelo Centro de Sondagens palestiniano, 88% dos palestinianos opõem-se ao "plano Trump" e 52% dizem apoiar o regresso à luta armada em caso de anexação.
Tzvi Yehezkeli, jornalista reputado em Israel e que fala árabe, explicou à AFP que ao interrogar palestinianos sobre a questão se deu conta que muitos deles não partilhavam a posição dos seus dirigentes.
"'Não nos importamos com a anexação', 'a Autoridade Palestiniana falhou' 'ela fica com o nosso dinheiro' 'ela é corrupta'", disse ter ouvido dos questionados, "coisas que nunca são mostradas na televisão", lamentou.
"Eles disseram isso porque perderam a esperança na paz, numa solução de dois Estados (o israelita e um palestiniano lado a lado)", considerou Chaawane Jabarine, da organização palestiniana de defesa dos direitos humanos Al-Haq, que, no entanto, disse não ter ouvido falar das referidas detenções.
Jabarine assinala que o assunto não pode ser visto fora de um contexto e que este "é um contexto de injustiça, de ocupação e no qual a Autoridade Palestiniana não age no interesse dos palestinianos e não conseguiu trazer a paz".
"A questão é: Israel está pronto para os aceitar como cidadãos plenos?", disse à AFP.
A resposta parece ser negativa. No final de maio, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que os palestinianos que se encontrarem em terras anexadas não obterão a cidadania israelita.
O governo israelita indicou o 01 de julho como a data a partir da qual divulgaria a sua estratégia para aplicar o plano norte-americano, mas até ao momento não foi feito qualquer anúncio.
Israel já anexou em 1967 Jerusalém Oriental, o setor palestiniano da cidade. Os palestinianos que lá vivem não têm cidadania israelita, mas sim cartões de residentes.
Apenas os árabes israelitas -- descendentes dos palestinianos que ficaram nas suas terras após a criação de Israel em 1948 -- têm cidadania plena, embora alguns se declarem vítimas de discriminação num país que adotou em 2018 uma lei definindo-o como "Estado nação do povo judeu".
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