O levantamento concluiu que as preocupações com a proteção das crianças aumentaram para 55% dos inquiridos, com 24% a registar um aumento da gravidade apenas nas últimas quatro semanas, devido à covid-19.
O inquérito identificou quase 40% dos inquiridos que testemunharam um aumento de crianças desacompanhadas e separadas, com o maior número de relatos a referir-se ao sul do Sudão e na República Democrática do Congo.
"O abuso físico e emocional, a negligência infantil e o trabalho infantil foram citados pelos inquiridos como principais preocupações", lê-se numa nota divulgada hoje pelo CIR e que foi enviada ao pessoal que trabalha na linha da frente dos serviços de proteção infantil em 17 países afetados por conflitos ou crises.
"As crianças desacompanhadas e separadas são particularmente vulneráveis à exploração e ao abuso, uma vez que lhes falta a proteção e o apoio dos pais e prestadores de cuidados ou de outros adultos de confiança. Em 17 países inquiridos, o abuso físico e emocional, a negligência infantil e o trabalho infantil foram citados com mais frequência como as principais preocupações", prossegue a mesma nota.
Os custos da violência são profundos. Além do sofrimento de quem sobrevive, os custos económicos ascendem aos 8 biliões de dólares (cerca de 6,9 biliões de euros) em potencial económico e produção que se perdem devido à violência no lar.
"Um bilião de crianças enfrenta atualmente abusos e com a covid-19 mais 85 milhões de raparigas e rapazes podem ser afetados", refere o CI, exemplificando com o Bangladesh, onde o espancamento pelos pais ou tutores aumentou 42% desde o início da pandemia.
No Uganda, a Linha de Apoio à Criança do país tratou de 881 casos desde que o confinamento começou, em finais de março, quando a média costuma ser de 248.
A nível mundial, estima-se que 152 milhões de crianças já estavam envolvidas em trabalho infantil antes da covid-19, com 73 milhões envolvidas em trabalhos muito perigosos.
O inquérito do CIR concluiu que o trabalho infantil, juntamente com o abuso físico, é a maior preocupação mundial ao nível da proteção dos adolescentes entre os 12 e os 17 anos.
No Líbano, onde a covid-19 exacerbou uma crise económica, o CIR identificou um aumento do número de crianças na rua, bem como de crianças envolvidas em trabalho infantil, com 50 novos casos registados apenas em dois meses.
A crise da covid-19 está a conduzir a vulnerabilidades para todas as crianças, mas rapazes e raparigas estão frequentemente a sofrer impactos diferentes.
Por exemplo, a covid-19 está a perturbar os esforços previstos para acabar com o casamento infantil devido às consequências económicas de grande alcance da pandemia.
Espera-se que nos próximos dez anos ocorram mais 13 milhões de casamentos de crianças, que sem a covid-19 não teriam ocorrido.
A segunda forma mais comum de violência baseada no género no Líbano, a seguir à violência doméstica, registada neste país durante o primeiro trimestre de 2020, foi o casamento forçado e precoce de raparigas, um efeito da covid-19 que agravou uma situação económica já de si terrível.
Além das consequências económicas da covid-19, que levaram ao aumento da tensão e stress dentro das famílias, as crianças perderam uma das formas mais importantes para denunciar abusos que eram as escolas, entretanto encerradas.
Além de atrasarem a sua aprendizagem, as crianças dentro destes contextos enfrentam um risco acrescido de violência, exploração e abuso, sem acesso à sua principal via para denunciar o abuso que possam estar a sofrer: as escolas.
Apesar de saberem que as crises conduzem a maiores taxas de abuso e preocupações com a proteção da criança, na atualização de maio do Plano Global de Resposta Humanitária, apenas 50% dos planos nacionais mencionavam as necessidades de proteção da criança.
E embora alguns governos tenham considerado os serviços de proteção da criança como essenciais, tal não se traduziu no nível de financiamento necessário para a execução de programas de proteção da criança durante uma emergência.
De acordo com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Serviços de Acompanhamento Financeiro dos Assuntos Humanitários, apenas 6,6 milhões de dólares (cerca de 5,75 milhões de euros) do pedido já por si insuficiente de 32 milhões de dólares (cerca de 27 milhões de euros) foram satisfeitos até ao início de julho.