Juan Carlos abandona Espanha em declínio e sob suspeitas de corrupção

A decisão do rei emérito Juan Carlos I de deixar a Espanha ocorre após várias semanas de fugas de informação sobre os seus supostos negócios ocultos na Suíça, que o deixaram numa situação de vulnerabilidade.

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Lusa
03/08/2020 19:07 ‧ 03/08/2020 por Lusa

Mundo

Espanha

A situação do ex-chefe de Estado espanhol, já em declínio desde a sua abdicação e posterior saída da vida pública, teve um novo ponto de viragem em 15 de março, quando o rei Filipe VI, seu filho, anunciou que renunciaria à herança do seu pai e lhe retiraria a subvenção pública anual de quase 200.000 euros anuais.

A decisão de Filipe VI foi tomada com base nas informações divulgadas sobre uma investigação à origem de 65 milhões de euros que tinham dado entrada num fundo suíço para a fundação Lucum, com base no Panamá, para determinar se eram comissões pagas pela Arábia Saudita a Juan Carlos, como benefício num processo envolvendo a construção de um comboio de alta velocidade em Meca.

Dois anos antes, em julho de 2018, o juiz do Tribunal Nacional Diego de Egea quis ouvir testemunhas do processo, depois de ouvir gravações telefónicas de uma conversa realizada em 2015 onde Corinna Larsen, amiga de Juan Carlos, revelava que tinha contas na Suíça, onde teria recolhido essas comissões da Arábia Saudita, sendo supostamente uma 'testa de ferro' do rei emérito de Espanha.

Meses depois, o Ministério Público espanhol abriu um processo, no âmbito da luta contra a corrupção, e, em março deste ano, foram enviadas cartas rogatórias à Suíça, para aceder aos dados dessa suposta doação.

Estes episódios provocaram o acelerar da fase de declínio de Juan Carlos I, o agora rei emérito, que nasceu em 05 de janeiro de 1938, em Roma, tendo-se mudado com a família para a Suíça, em 1942, antes de ir viver para Portugal, no Estoril, em 1946, chegando pela primeira vez a Espanha em 09 de novembro de 1948.

Por proposta do ditador Francisco Franco, foi designado pelas Cortes como chefe de Estado, em 1969. Anunciou a abdicação ao trono em favor do filho, Filipe VI, em 02 de junho de 2014.

Juan Carlos, que hoje anunciou que deixa Espanha para viver noutro país, não se sabendo ainda qual, já tinha abdicado da sua vida pública e tinha-se refugiado na companhia dos amigos, fazendo vela e assistindo a touradas ou a corridas de Fórmula 1.

Com a sua mobilidade cada vez mais afetada, Juan Carlos foi operado ao coração em agosto de 2019, tendo sido visto a dar entrada numa clínica de Madrid, em junho passado, para um 'check-up' médico, protegido por uma máscara e continuando a tentar preservar a sua privacidade.

Mas os rumores do seu envolvimento num caso de corrupção e de posse de investimentos em paraísos fiscais começaram a fazer danos na coroa espanhola.

A evolução dos eventos desencadeou uma tentativa de vários grupos partidários no Congresso para criar uma comissão parlamentar de inquérito, mas os votos contra do PSOE, PP e Vox impediram a iniciativa.

Em julho, novas fugas de informação surgiram sobre este caso, com algumas testemunhas a declararem aos investigadores que os 65 milhões tinham sido transferidos para Juan Carlos, como sinal de "gratidão", por parte do falecido rei Abdullah da Arábia Saudita.

Também foi revelado que Juan Carlos I fez levantamentos periódicos da conta em nome da fundação Lucum em montantes que excederam 100.000 euros por mês, entre 2008 e 2012.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, descreveu as informações como "inquietantes e perturbadoras", embora, ao mesmo tempo, tenha agradecido a Felipe VI por se distanciar delas.

Sobre a decisão de saída do país de Juan Carlos, o Governo ainda não reagiu, mas nos últimos tempos Pedro Sanchez tem insistido muito para que haja transparência na monarquia, dizendo esperar uma atitude do Palácio da Zarzuela.

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