Em Wuhan, onde tudo começou, a vida está de volta ao normal. As pessoas enchem as estradas, os restaurantes e os bares, não parecendo a mesma cidade que foi devastada por uma doença, à data, misteriosa, sem nome, e que obrigou ao primeiro confinamento, que depois viria a ser aplicado um pouco por todo o mundo.
Contudo, há quem não consiga esquecer e esteja disposto a chegar a extremos para que os outros também não esqueçam.
Entre essas pessoas está Zhao Lei, que está a processar o governo chinês, exigindo uma indemnização e um pedido de desculpas público.
"Acho que o governo encobriu alguns factos", começou por referir Zhao, de 39 anos, em entrevista à Sky News. "Por causa disso, a população de Wuhan continuou a viver como antes, celebraram o novo ano chinês normalmente, sem tomar qualquer precaução", continuou, referindo que, como resultado disso, o seu pai ficou infetado e morreu, no final do mês de janeiro.
A essa altura, os serviços de emergência já se encontravam completamente lotados, não havendo uma ambulância para o levar ao hospital. A família andou cerca de nove quilómetros, ao frio, até finalmente conseguir apanhar um Tuk Tuk.
Contudo, era tarde demais e o homem acabou por morrer de insuficiência respiratória enquanto aguardava na sala de espera. "O meu pai era honesto", acrescentou.
Sem conseguir aceitar a perda, Zhao Lei insiste que o governo chinês encobriu o facto de o vírus poder ser passado de pessoa para pessoa. "Responsabilizo o governo e peço que paguem o devido preço".
Milhares de famílias fazem o luto pelas vítimas da Covid-19, mas poucos ousaram fazer o mesmo que Zhao Lei. O tribunal municipal rejeitou o pedido e a polícia visitou a sua mãe, avisando-a que ela devia largar o caso e não falar disso publicamente, reporta a Sky News.
Esta é uma luta corajosa num país que não tolera dissidência e que desde o início da pandemia vinca que lidou com o vírus de forma "aberta e transparente".