Khashoggi: RSF diz que julgamento não permitiu apurar toda a verdade
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) criticou hoje a sentença de um tribunal da Arábia Saudita aplicada a oito arguidos pelo assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, defendendo que o julgamento não permitiu apurar toda a verdade sobre o crime.
© YASIN AKGUL/AFP via Getty Images
Mundo Jamal Khashoggi
"O julgamento foi realizado à porta fechada e, portanto, não respeitou os princípios elementares de justiça", realçou o secretário-geral da Organização Não Governamental (ONG) RSF, Christophe Deloire, em declarações à agência AFP.
"Este julgamento sem público ou jornalistas não nos permitiu saber a verdade e entender o que aconteceu em 02 de outubro de 2018 no consulado da Arábia Saudita em Istambul [onde Jamal Khashoggi foi assassinado] e quem encomendou este crime estatal", acrescentou.
Para Christophe Deloire, a sentença da justiça saudita, que afastou qualquer premeditação contra os acusados, sugere que o crime foi "acidental" quando "muitos elementos provam o contrário".
O único motivo de satisfação para a RSF foi o facto de não terem sido mantidas as sentenças de "pena de morte a alguns dos arguidos".
A ONG tinha realçado que as penas de morte inicialmente atribuídas seriam "uma forma de silenciar para sempre as testemunhas do assassinato".
Um tribunal saudita condenou esta segunda-feira cinco dos acusados a 20 anos de cadeia e três outros a penas que vão de sete a 10 anos de prisão, diminuindo a pena a todos, segundo as autoridades, que não revelaram a identidade dos réus.
"A comunidade internacional não vai aceitar essa farsa", escreveu Hatice Cengiz, a noiva turca de Khashoggi, na sua conta pessoal da rede social Twitter.
Também Agnès Callamard, a especialista nomeada pela ONU para realizar uma investigação independente sobre o assassínio do jornalista norte-americano de origem saudita disse hoje que a sentença hoje anunciada não tem "legitimidade ou moral", embora tenha saudado o cancelamento das penas de morte.
"O procurador saudita teve um novo gesto nesta paródia de justiça", escreveu Callamard na sua conta de Twitter, cujo parecer não vincula as Nações Unidas. "Estas sentenças não têm legitimidade ou moral. Elas foram emitidas no fim de um processo que não foi justo nem transparente", conclui a especialista.
O jornalista norte-americano de origem saudita Jamal Khashoggi foi assassinado no consulado da Arábia Saudita em Istambul, em outubro de 2018, depois de ter escrito duras críticas sobre o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, em colunas para o jornal norte-americano Washington Post.
Khashoggi vivia no exílio nos Estados Unidos há um ano, denunciando as ações de repressão do príncipe herdeiro saudita contra ativistas de direitos humanos, escritores e intelectuais opositores do regime.
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