O estudo, realizado pelas consultoras Oxera e Edge Health e pelo matemático Kit Yates, professor na Universidade de Bath, a pedido de um grupo de companhias aéreas e aeroportos, põe em causa os cálculos da direção geral de Saúde de Inglaterra (Public Health England, PHE), usados pelo Governo para manter a política de obrigar todas as pessoas que chegam do estrangeiro a ficar em isolamento durante duas semanas, com exceção de alguns países e territórios considerados seguros.
Desde junho, quando foi imposta a política da quarentena, que o primeiro-ministro, Boris Johnson, o ministro da Saúde, Matt Hancock, e o ministro dos Transportes, Grant Shapps, invocaram o modelo da PHE para argumentar que testes à chegada nos aeroportos só seriam capazes de identificar uma pequena fração de infetados.
O novo estudo critica a estimativa usada pelas autoridades de saúde porque considera que os testes só vão identificar doentes assintomáticos ou que desenvolveram sintomas durante a viagem porque assume que ninguém com sintomas viajaria de avião.
"O modelo da PHE pressupõe que todos os viajantes infetados e detetáveis com um teste antes da partida não embarcam em voos para o Reino Unido. Portanto, os 7% citados pelo governo representam apenas os viajantes que se tornam detetáveis durante o voo. Em vez disso, a Edge Health e a Oxera estimam que até 63% dos passageiros infetados que tentam entrar no Reino Unido podem ser impedidos de fazê-lo com um esquema de teste", refere um comunicado a propósito do estudo.
O diretor da Edge Health, George Batchelor, uma empresa de análise de dados que trabalha para o serviço de saúde pública britânico (NHS), afirma que o modelo atualmente usado pelo governo "resulta numa subestimação da eficácia dos testes à chegada, levantando sérias questões sobre o seu papel em sustentar a política governamental sobre o teste de passageiros".
A indústria da aviação e turismo tem estado a pressionar o Governo britânico para substituir o regime de quarentena por um sistema de testes a realizar à chegada nos aeroportos, um modelo que já é usado em mais de 30 países incluindo Alemanha ou Itália.
Noutros casos, como Portugal, passageiros de certos países têm de apresentar um teste com resultado negativo realizado até 72 horas antes da partida.
Na semana passada, o ministro dos Transportes britânico disse estar em estudo uma opção para encurtar o período de quarentena, que deixaria os passageiros fazer um teste após uma semana e, se o resultado for negativo, deixar o isolamento sem ter de cumprir os 14 dias até agora exigidos.
Porém, o presidente do aeroporto de Heathrow, John Holland-Kaye, estabeleceu 01 de novembro como prazo para este sistema ser implementado sob o risco de serem anunciados mais milhares de despedimentos.
O aeroporto, o maior do Reino Unido, registou menos 5,5 milhões de passageiros em setembro relativamente ao mês anterior, uma quebra de 82%, coincidindo com o fim dos corredores de viagem internacionais abertos em julho e agosto.
Devido à segunda vaga da pandemia covid-19, muitos dos cerca de 70 destinos isentos de quarentena foram de novo considerados de risco, incluindo Portugal, que só esteve na lista de países seguros durante três semanas.
Hoje, o grupo IAG, proprietário das companhias British Airways, Iberia e Vueling, anunciou prejuízos de 1,3 mil milhões de euros nos resultados preliminares relativos ao período entre julho e setembro, comparando com 1,4 mil milhões de euros de lucro no mesmo trimestre de 2019.
O grupo indicou ter tomado a decisão de reduzir a capacidade e voar apenas 30% dos voos que operou no ano passado.
Os setores da aviação e turismo, dois dos mais afetados pelas restrições impostas por diversos países às viagens internacionais, têm estado a fazer pressão sobre o governo para aceitar um sistema de testes nos aeroportos que potencie uma retoma económica.
Na terça-feira, Heathrow iniciou um projeto piloto com passageiros com destino a Hong Kong, aos quais foi dada a opção de pagar 80 libras (89 euros) por um teste rápido antes de fazer o check-in, sendo os resultados obtidos no espaço de 60 minutos.
Com 44.158 óbitos oficialmente registados, o Reino Unido é o país europeu com o maior número de mortes de covid-19 e o quinto a nível mundial, atrás dos EUA, Brasil, Índia e México.