Covid-19. 84% dos programas de ajuda do FMI implicam mais austeridade

A Organização Não Governamental (ONG) Oxfam alertou que 76 dos 91 programas de ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI) durante a pandemia, incluindo Angola, têm cláusulas que implicam "duras medidas de austeridade" no futuro.

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Lusa
26/10/2020 15:27 ‧ 26/10/2020 por Lusa

Economia

Oxfam

 

"Oitenta e quatro por cento dos empréstimos do FMI encorajam, e nalguns casos obrigam, os países pobres duramente atingidos pelas consequências económicas da pandemia a adotarem mais medidas duras de austeridade a seguir à crise de saúde", lê-se numa análise aos programas de ajuda que o Fundo lançou para ajudar os países em dificuldades.

Os 76 dos 91 programas negociados com 81 países desde março deste ano, quando a pandemia foi declarada pela Organização Mundial, "defendem um 'aperto do cinto' que pode resultar em profundos cortes aos sistemas públicos de saúde e às pensões, congelamento de salários dos funcionários públicos, como médicos, enfermeiros, e professores, e sistema de segurança social, como subsídios de doença", de acordo com o documento consultado hoje pela Lusa.

Entre os países africanos apontados como exemplo estão Angola e a Nigéria, "que deverão implementar ou aumentar a coleta de um imposto sobre o valor acrescentado (IVA), que se aplica a produtos quotidianos como alimentação, vestuário e produtos domésticos, e incide desproporcionadamente sobre as pessoas mais pobres".

Além destes dois países africanos produtores de petróleo, que beneficiam de programas de apoio financeiro do FMI, a Oxfam apresenta também o caso do Equador, que "foi aconselhado pelo FMI a reduzir os aumentos na despesa em saúde", e outros 14 países que deverão congelar os aumentos salariais para os funcionários públicos.

"O FMI fez soar o alarme relativamente ao forte aumento na desigualdade, no seguimento da pandemia, mas está a conduzir os países para um sistema em que os gastos durante a pandemia serão depois pagos através de cortes austeros que vão aumentar a pobreza e a desigualdade", comentou a diretora-executiva interina, Chema Vera.

"Estas medidas podem deixar milhões de pessoas sem acesso ao sistema de saúde ou de rendimento enquanto procuram trabalho, e pode acabar com qualquer esperança de uma recuperação sustentável", acrescentou.

Em resposta a esta análise da Oxfam, o diretor de comunicação do FMI comentou à Bloomberg que os fundos de emergência focados no apoio orçamental imediato foram disponibilizados sem quaisquer condições e acrescentou que depois da pandemia haverá muitos países confrontados com dívidas mais elevadas e receitas mais baixas, sendo necessário medidas para colocar as finanças no rumo certo.

Neste sentido, Gerry Rice apresentou três prioridades: aumentar as receitas através de medidas fiscais progressivas ao mesmo tempo que se evitam fugas e evasão fiscal, novas prioridades de despesa e aumento da eficiência, e mais apoio da comunidade internacional na concessão de financiamento concessional, alívio adicional de dívida e, nalguns casos, reestruturação ou reescalonamento da dívida.

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