Presidente demissionário do Kosovo detido no Tribunal Especial de Haia
O presidente demissionário do Kosovo, Hashim Thaçi, que renunciou ao cargo para se defender das acusações de crimes de guerra durante o conflito contra as forças sérvias, foi hoje detido no Tribunal Especial de Haia.
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Mundo Haia
Em comunicado, o organismo internacional explicou que o ex-dirigente do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK, os separatistas armados albaneses) e outros três suspeitos "foram transferidos para o centro de detenção" daquele tribunal, noticia a agência AFP.
Thaci anunciou a sua renúncia ao cargo numa conferência de imprensa realizada hoje em Pristina, capital de Kosovo.
"Não vou comparecer em tribunal como Presidente e, [por isso] renuncio hoje para proteger a integridade do Estado", tinha destacado Thaci em declarações aos jornalistas.
Três outros suspeitos também foram transferidos para Haia, acrescentou o tribunal, sendo também detido o ex-porta-voz da guerrilha kosovar Jakup Krasnigi, um dos mais próximos aliados políticos de Thaci, Kadri Veseli, ex-chefe da inteligência do guerrilheiros, e ainda uma das principais figuras do UÇK, Rexhep Selimi.
O tribunal acrescentou que irá divulgar mais tarde quando irão ser ouvidos pela primeira vez os detidos.
O tribunal sobre o Kosovo teve origem num inquérito internacional que decorreu após um relatório do Conselho da Europa que questionou as atividades de antigos comandantes UÇK, incluindo Hashim Thaçi.
O ex-primeiro-ministro kosovar Ramush Haradinaj demitiu-se em julho de 2019, após ser convocado pelo tribunal especial na qualidade de suspeito.
Kadri Veseli, ex-dirigente dos serviços de informações do UÇK e presidente do parlamento cessante, anunciou em novembro passado ter também recebido uma convocatória do tribunal.
Um relatório do Conselho da Europa evocou a morte ou desaparecimento de 500 pessoas, incluindo 400 sérvios, após a retirada das forças sérvias em junho de 1999, e quando o UÇK garantia o controlo "quase exclusivo" da situação no terreno.
O relatório refere-se designadamente a execuções sumárias, sequestros e tráfico de órgãos retirados das vítimas.
Os detalhes exatos do processo contra Thaci, Haradinaj e Veseli não foram divulgados, mas, ao anunciar a existência da acusação, a procuradoria especial alegou que os acusados foram "criminalmente responsáveis por quase 100 assassínios".
O Kosovo, com cerca de 1,8 milhões de habitantes e ex-província sérvia com larga maioria de população albanesa, autoproclamou a independência em 17 de fevereiro de 2008, reconhecida de imediato pelos Estados Unidos e Reino Unido e, progressivamente, por 22 dos 27 Estados-membros da UE.
Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre são os países da UE que não legitimaram a independência do Kosovo.
Para além de Belgrado, a antiga província do sul da Sérvia também não foi reconhecida pela Rússia, China, Índia, África do Sul e dezenas de outras capitais.
A intervenção do exército da Sérvia no Kosovo em 1998, para combater os pró-independentistas armados albaneses, motivou o envolvimento da NATO contra a Sérvia, e ainda no Montenegro, entre março e junho de 1999, quando foi assinado um acordo de tréguas em Kumanovo, cidade da Macedónia do Norte.
Na sequência desde acordo, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução que confirmava a integridade territorial da Sérvia, com base na qual Belgrado recusou reconhecer a independência.
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