"Temos um mês de confinamento e vai haver uma tentativa de sair do confinamento a partir de 01 de dezembro. Vai ser algo progressivo até ao Natal e o Natal não vai ser normal", afirmou em entrevista à agência Lusa Anne-Marie Moulin, médica especialista em doenças tropicais e diretora emérita do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS).
Para esta investigadora, escolhida pelo Presidente francês Emmanuel Macron como um dos cinco membros da missão que avalia as medidas governamentais para fazer face à pandemia, o Natal gaulês será acompanhada por "novas medidas sanitárias", com pouca gente nas reuniões familiares e "sem viagens transnacionais". "É provável que fiquemos em casa e em pequenos grupos", indicou.
Com mais de 46 mil mortos e 2 milhões de casos confirmados, a França é um dos países na Europa com uma segunda vaga mais acentuada, um facto que Anne-Marie Moulin atribui a diversos fatores.
"Foi uma mistura do comportamento do vírus, das mensagens das autoridades sanitárias e do comportamento das pessoas", considerou a investigadora.
No verão, quando as autoridades francesas generalizaram os testes para toda a população deixou de ser possível "compreender a propagação epidémica" no país, segundo Moulin. A isto juntou-se a vontade de "voltar à vida normal" e a diminuição das temperaturas, o que levou ao rápido aumento do número de casos em setembro.
Com os anúncios da Pfizer e dos laboratórios Moderna, a esperança de uma vacina rapidamente é "bem-vinda", de acordo com a investigadora, mas deve ser vista com prudência.
"É preciso ser prudente. Há, desde logo, uma operação de publicidade por detrás destes anúncios. [...] Eles podem também levar-nos a sobrestimar a eficácia das vacinas e subestimar os seus efeitos secundários", sublinhou.
Tendo já desenvolvido estudos sobre a história da vacinação, Anne-Marie Moulin lembra que ainda não há publicações científicas sobre as novas vacinas e que a sua eficácia na população em geral pode não atingir os níveis que atinge na fase de testes já que há "características genéticas e imunológicas diferentes" a ter em conta.
Para além da sua carreira na investigação médica, Moulin é também formada em Filosofia, sendo uma voz recorrente nos meios de comunicação franceses sobre o impacto da doença na sociedade, defendendo que os hábitos
"Não vale a pena exagerar a questão do medo do outro, porque isso é algo que sempre existiu. Historicamente, depois das epidemias, voltamos a ter um comportamento normal. O que vai subsistir é a injustiça social que o vírus demonstrou existir na sociedade e o medo do futuro.
Como membro do grupo que está a avaliar a ação do Governo face ao vírus em França, Anne-Marie Moulin, que trabalhou maioritariamente fora do país no âmbito das doenças tropicais, vê-se agora confrontada com a realidade "complicada" das estruturas da Saúde no país.
"É uma burocracia terrivelmente complicada, com muitas estruturas. A grande dificuldade de ter tantas estruturas ligadas à Saúde é que torna a sua interação difícil especialmente quando há uma célula de crise que precisa de se articular como no caso da covid-19", disse.
As conclusões deste grupo independente deveriam inicialmente apresentar as suas conclusões no fim de 2020, no entanto, a progressão da segunda vaga adiou publicação do documento para abril de 2021.