Adiado o julgamento do ex-presidente francês Sarkozy por corrupção
O julgamento do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, acusado de corrupção e tráfico de influências na sequência de um escândalo que envolveu escutas telefónicas, começou hoje no Tribunal Criminal de Paris, mas foi adiado pouco depois.
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A decisão do tribunal foi tomada na sequência do pedido dos advogados de um dos réus, o juiz Gilbert Azibert, que alegaram o estado de saúde muito precário do arguido, tendo o presidente do tribunal ordenado um exame médico, que deve ser entregue até quinta-feira.
"Dada a sua idade (73 anos) e historial médico, que inclui problemas cardíacos e respiratórios, os médicos aconselharam o meu cliente a não viajar para Paris neste contexto de pandemia", afirmou o advogado da Azibert Dominique Allegrini, garantindo que o juiz "está muito interessado em testemunhar pessoalmente no julgamento".
O Ministério Público opôs-se ao adiamento do julgamento e alegou que o arguido podia testemunhar por videoconferência, como consta do despacho judicial emitido pelo Governo para adaptação das sessões judiciais ao panorama do coronavírus.
O ex-chefe de Estado chegou ao tribunal cerca das 13:20 (12:20 em Lisboa), cercado pelos seus advogados, guarda-costas e dezenas de jornalistas.
O ex-Presidente, de 65 anos, vai julgado em conjunto com o seu advogado Thierry Herzog, também de 65 anos, e Gilbert Azibert, podendo ser condenados a uma pena suspensa de prisão de até 10 anos e a uma multa de até um milhão de euros. Os três acusados negam qualquer irregularidade.
Sarkozy e Herzog são suspeitos de prometer a Azibert um emprego no Mónaco em troca de informações sobre uma investigação ao financiamento ilegal da campanha presidencial de 2007 pela mulher mais rica da França, a herdeira da L'Oreal Liliane Bettencourt.
De acordo com a acusação, Sarkozy e Herzog usaram, em 2014, telemóveis secretos, registados sob o pseudónimo "Paul Bismuth", para terem conversas privadas, já que receavam que as conversas estivessem a ser escutadas.
Sarkozy e Herzog explicaram que compraram os telefones para evitar serem alvo de escutas telefónicas ilegais, mas os investigadores suspeitam que o que realmente queriam era evitar ser gravados, até porque as conversas sugeriam que ambos sabiam que os seus telefones oficiais estavam a ser escutados.
Sarkozy argumentou, entretanto, que nunca interveio para ajudar Azibert, que nunca chegou a ir trabalhar para o Mónaco, tendo-se reformado em 2014.
No entanto, o tribunal considerou que assim que um negócio é oferecido, constitui infração penal, mesmo que as promessas não sejam cumpridas.
O nome de Sarkozy apareceu, durante anos, ligado a várias outras investigações judiciais, com alegações que incluíram financiamento ilegal da sua campanha de 2007 pelo então ditador líbio, Muammar Kadhafi, e que lançaram uma sombra sobre a tentativa de regresso de Sarkozy nas eleições presidenciais de 2017, não tendo sido escolhido como candidato pelo seu partido e acabando por se retirar da política ativa.
Sarkozy continuou, no entanto, a ser uma figura popular entre os eleitores franceses de direita, como mostra o sucesso de várias semanas que teve o livro com as suas memórias, publicado neste verão, "Le Temps des Tempêtes" (o tempo das tempestades).
No início deste mês, o empresário franco-libanês Ziad Takieddine voltou atrás nas declarações que tinha feito e negou ter entregado uma mala com cinco milhões de euros em dinheiro, provinda da Líbia, a Sarkozy e ao seu ex-chefe de gabinete, Claude Gueant.
Em vez disso, disse à emissora de notícias BFM e à revista Paris-Match que "não houve financiamento da Líbia".
Sarkozy reagiu, afirmando que a verdade estava "finalmente a aparecer".
O ex-Presidente vai enfrentar ainda outro julgamento, na primavera de 2021, em conjunto com 13 outras pessoas, pela acusação de financiamento ilegal da sua campanha presidencial de 2012.
O partido conservador e uma empresa chamada Bygmalion são acusados de usar um sistema especial de faturas para ocultar gastos excessivos não autorizados, sendo suspeitos de terem gastado 42,8 milhões de euros, quase o dobro do máximo autorizado, para financiar a campanha.
As eleições deram a vitória ao rival socialista François Hollande.
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