Três polícias franceses suspensos depois de espancarem homem negro
Três polícias franceses foram hoje suspensos depois do espancamento de um produtor de música negro documentado por um vídeo publicado nas redes sociais, em pleno debate sobre um controverso projeto de lei de "segurança global".
© Patrick Aventurier/Getty Images
Mundo Racismo
O caso surgiu quando o portal na Internet Loopsider publicou imagens que mostram um homem negro, identificado como "Michel" espancado por polícias à entrada de um estúdio de música em Paris.
"Chamaram-me várias vezes negro sujo e deram-me socos", denunciou a vítima, que apresentou queixa na sede da Inspeção-Geral da Polícia Nacional (IGPN), em Paris.
"Quem tem de me proteger, agride-me. Eu não fiz nada para merecer isso. Só quero que essas três pessoas sejam punidas pela lei", continuou perante a imprensa.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, vai ser ouvido na segunda-feira pela Comissão de Leis da Assembleia Nacional e já pediu ao chefe da polícia de Paris, Didier Lallement, a suspensão dos agentes em questão.
O procurador de Paris, Rémy Heitz, queria que o IGPN, em posse do dossiê, investigasse o "mais rápido possível".
"Este é um assunto extremamente importante para mim e que tenho acompanhado pessoalmente desde sábado", declarou à agência France-Presse (AFP).
De acordo com o relatório consultado pela AFP, os três polícias intervieram no sábado para tentar deter "Michel" por não usar máscara.
"Enquanto o tentamos intercetar, ele arrastou-nos à força para dentro do prédio", pode ler-se no documento.
Imagens de videovigilância deste estúdio mostram os três agentes a entrar no estúdio, agarrar o homem e, de seguida, a socá-lo, chutá-lo e agredi-lo com cassetetes.
No relatório, a polícia escreveu que o homem os tinha agredido.
Segundo essas mesmas imagens, "Michel" resiste ao recusar ser dominado e depois tenta proteger o rosto e o corpo, sem dar a sensação que tenha tentado atingir os agentes durante a cena que durou cinco minutos.
As pessoas que estavam na cave do estúdio conseguiram então chegar à entrada, fazendo com que a polícia se retirasse e a porta do estúdio fechasse.
Em segida, a polícia tentou forçar a porta e atirou gás lacrimogéneo para o interior.
Depois da detenção, o homem foi inicialmente colocado sob custódia policial como parte de uma investigação por "violência contra uma pessoa que detém autoridade pública" e "rebelião".
Porém, a procuradoria de Paris encerrou essa investigação e abriu um novo procedimento na terça-feira por "violência cometida por pessoas que detêm autoridade pública" e "falsificação em escritura pública".
"Se não tivéssemos os vídeos, o meu cliente poderia estar agora na prisão", afirmou Hafida El Ali, advogada de "Michel" à AFP.
As figuras públicas francesas não demoraram a reagir ao caso nas redes sociais, como os futebolistas Antoine Griezmann e Samuel Umtiti, ambos internacionais franceses que alinham no Barcelona, o primeiro lamentando o país "em mágoa" e o segundo a comentar que "os seres humanos são capazes de fazer coisas desumanas".
"Nessas imagens, não se trata de uma polícia republicana, mas de uma milícia bárbara fora do controlo", denunciou o líder do partido de esquerda França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon.
O caso aconteceu depois da aprovação, na terça-feira, pela Assembleia Nacional da proposta de lei "Segurança global", que suscita fortes críticas de jornalistas, defensores das liberdades e da oposição.
O artigo 24.º, o mais polémico, pune com um ano de prisão e multa de 45.000 euros a divulgação de "imagens faciais ou qualquer outro elemento de identificação" de elementos da polícia de intervenção, quando "atenta" à "integridade física ou mental".
A lei foi aprovada um dia depois da evacuação brutal de um acampamento de migrantes, na noite de segunda-feira, na Praça da República em Paris.
A procuradoria de Paris abriu duas investigações por suspeitas de "violência" de polícias contra um migrante e um jornalista.
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