O caso surgiu quando o portal na Internet Loopsider publicou imagens que mostram um homem negro, identificado como "Michel" espancado por polícias à entrada de um estúdio de música em Paris.
"Chamaram-me várias vezes negro sujo e deram-me socos", denunciou a vítima, que apresentou queixa na sede da Inspeção-Geral da Polícia Nacional (IGPN), em Paris.
"Quem tem de me proteger, agride-me. Eu não fiz nada para merecer isso. Só quero que essas três pessoas sejam punidas pela lei", continuou perante a imprensa.
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, vai ser ouvido na segunda-feira pela Comissão de Leis da Assembleia Nacional e já pediu ao chefe da polícia de Paris, Didier Lallement, a suspensão dos agentes em questão.
O procurador de Paris, Rémy Heitz, queria que o IGPN, em posse do dossiê, investigasse o "mais rápido possível".
"Este é um assunto extremamente importante para mim e que tenho acompanhado pessoalmente desde sábado", declarou à agência France-Presse (AFP).
De acordo com o relatório consultado pela AFP, os três polícias intervieram no sábado para tentar deter "Michel" por não usar máscara.
"Enquanto o tentamos intercetar, ele arrastou-nos à força para dentro do prédio", pode ler-se no documento.
Imagens de videovigilância deste estúdio mostram os três agentes a entrar no estúdio, agarrar o homem e, de seguida, a socá-lo, chutá-lo e agredi-lo com cassetetes.
No relatório, a polícia escreveu que o homem os tinha agredido.
Segundo essas mesmas imagens, "Michel" resiste ao recusar ser dominado e depois tenta proteger o rosto e o corpo, sem dar a sensação que tenha tentado atingir os agentes durante a cena que durou cinco minutos.
As pessoas que estavam na cave do estúdio conseguiram então chegar à entrada, fazendo com que a polícia se retirasse e a porta do estúdio fechasse.
Em segida, a polícia tentou forçar a porta e atirou gás lacrimogéneo para o interior.
Depois da detenção, o homem foi inicialmente colocado sob custódia policial como parte de uma investigação por "violência contra uma pessoa que detém autoridade pública" e "rebelião".
Porém, a procuradoria de Paris encerrou essa investigação e abriu um novo procedimento na terça-feira por "violência cometida por pessoas que detêm autoridade pública" e "falsificação em escritura pública".
"Se não tivéssemos os vídeos, o meu cliente poderia estar agora na prisão", afirmou Hafida El Ali, advogada de "Michel" à AFP.
As figuras públicas francesas não demoraram a reagir ao caso nas redes sociais, como os futebolistas Antoine Griezmann e Samuel Umtiti, ambos internacionais franceses que alinham no Barcelona, o primeiro lamentando o país "em mágoa" e o segundo a comentar que "os seres humanos são capazes de fazer coisas desumanas".
"Nessas imagens, não se trata de uma polícia republicana, mas de uma milícia bárbara fora do controlo", denunciou o líder do partido de esquerda França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon.
O caso aconteceu depois da aprovação, na terça-feira, pela Assembleia Nacional da proposta de lei "Segurança global", que suscita fortes críticas de jornalistas, defensores das liberdades e da oposição.
O artigo 24.º, o mais polémico, pune com um ano de prisão e multa de 45.000 euros a divulgação de "imagens faciais ou qualquer outro elemento de identificação" de elementos da polícia de intervenção, quando "atenta" à "integridade física ou mental".
A lei foi aprovada um dia depois da evacuação brutal de um acampamento de migrantes, na noite de segunda-feira, na Praça da República em Paris.
A procuradoria de Paris abriu duas investigações por suspeitas de "violência" de polícias contra um migrante e um jornalista.