Grupo terrorista mata 43 agricultores no estado nigeriano de Borno

Pelo menos 43 agricultores foram mortos pelo grupo terrorista Boko Haram, no estado de Borno, no nordeste da Nigéria, onde decorrem hoje as primeiras eleições locais desde o início da insurreição jihadista, em 2009.

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Lusa
28/11/2020 22:20 ‧ 28/11/2020 por Lusa

Mundo

Nigéria

 

"Encontrámos 43 corpos, todos eles com a garganta cortada, e seis pessoas ficaram gravemente feridas", disse Babakura Kolo, o líder de um grupo pró governamental de autodefesa.

"É sem dúvida um trabalho de Boko Haram, que opera na região e ataca frequentemente os agricultores", adiantou Kolo, que ajudou a transportar as vítimas.

O ataque teve lugar num arrozal a menos de dez quilómetros de Maiduguri, a capital do Estado do Borno. No mês passado, 22 agricultores foram mortos nos seus campos perto da cidade.

"Sessenta trabalhadores agrícolas foram contratados para a colheita do arroz neste campo. Quarenta e três foram mortos e seis outros feridos", disse outro habitante, Ibrahim Liman, à agência de notícias francesa AFP.

Oito agricultores estão desaparecidos e, presumivelmente, terão sido raptados pelos jihadistas, acrescentou a mesma fonte.

Os corpos das vítimas foram transferidos para a aldeia de Zabarmari, a dois quilómetros do campo de arroz, e os funerais realizam-se no domingo, de acordo com um dos seus habitantes, Mala Bunu, que participou nas operações de socorro.

O ataque ocorreu em dia de eleições para os representantes regionais e conselheiros dos 27 círculos eleitorais do estado de Borno.

As eleições foram adiadas muitas vezes, desde 2008, por causa do Boko Haram e a sua fação rival, o Estado islâmico na África Ocidental (Iswap), terem multiplicado os ataques mortais e controlarem parte do território.

Em cinco círculos eleitorais, nas margens do Lago Chade, uma área controlada pelo grupo Iswap, os habitantes votaram hoje longe das suas casas, em Maiduguri.

É nesta cidade e nos arredores que centenas de milhares de pessoas encontraram refúgio em campos improvisados, depois dos grupos jihadistas terem atacado as suas aldeias.

Cerca de 2 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas desde o início do conflito, em 2009, que matou mais de 36.000 pessoas.

"É meu dever vir e votar nos representantes e conselheiros regionais porque eles são responsáveis pela minha localidade", disse Bukar Amar, um deslocado do conflito que votou na sua localidade a partir do campo de Bakassi, à AFP.

"Até agora, as eleições têm corrido bem e esperamos que todos os eleitores possam colocar o seu boletim de voto nas urnas antes do encerramento das mesas", disse Abdulrahman Bulama Ali, um funcionário eleitoral no campo.

Durante vários meses, as autoridades foram encorajando os deslocados a regressarem às suas aldeias, porque já não era financeiramente viável cuidar deles, uma vez que aquelas pessoas dependem quase inteiramente da ajuda humanitária para sobreviver e já não têm acesso aos campos.

Como resultado, um número significativo de deslocados regressou às suas aldeias, que tinham sido devastadas pela violência.

"Queremos voltar para casa e estas eleições locais são um grande passo para mim", disse Bukar ao meio-dia.

Os ataques estão a visar cada vez mais os madeireiros, pastores e pescadores. Acusam-nos de espionagem e de passarem informações aos militares e às milícias que combatem a violência jihadista na região.

O conflito, que dura há mais de uma década, criou uma crise humanitária dramática, recentemente agravada por más colheitas e restrições impostas pela pandemia.

"Registámos níveis de insegurança alimentar semelhantes aos de 2016-2017, no auge da crise humanitária, quando o risco de fome ameaçava o nordeste", disse Edward Kallon, Coordenador Humanitário das Nações Unidas na Nigéria, em novembro.

Cerca de 4,3 milhões de pessoas estavam em insegurança alimentar em junho de 2020, durante a época de escassez. A ONU prevê que este número aumente 20% no próximo ano.

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