"Encontrámos 43 corpos, todos eles com a garganta cortada, e seis pessoas ficaram gravemente feridas", disse Babakura Kolo, o líder de um grupo pró governamental de autodefesa.
"É sem dúvida um trabalho de Boko Haram, que opera na região e ataca frequentemente os agricultores", adiantou Kolo, que ajudou a transportar as vítimas.
O ataque teve lugar num arrozal a menos de dez quilómetros de Maiduguri, a capital do Estado do Borno. No mês passado, 22 agricultores foram mortos nos seus campos perto da cidade.
"Sessenta trabalhadores agrícolas foram contratados para a colheita do arroz neste campo. Quarenta e três foram mortos e seis outros feridos", disse outro habitante, Ibrahim Liman, à agência de notícias francesa AFP.
Oito agricultores estão desaparecidos e, presumivelmente, terão sido raptados pelos jihadistas, acrescentou a mesma fonte.
Os corpos das vítimas foram transferidos para a aldeia de Zabarmari, a dois quilómetros do campo de arroz, e os funerais realizam-se no domingo, de acordo com um dos seus habitantes, Mala Bunu, que participou nas operações de socorro.
O ataque ocorreu em dia de eleições para os representantes regionais e conselheiros dos 27 círculos eleitorais do estado de Borno.
As eleições foram adiadas muitas vezes, desde 2008, por causa do Boko Haram e a sua fação rival, o Estado islâmico na África Ocidental (Iswap), terem multiplicado os ataques mortais e controlarem parte do território.
Em cinco círculos eleitorais, nas margens do Lago Chade, uma área controlada pelo grupo Iswap, os habitantes votaram hoje longe das suas casas, em Maiduguri.
É nesta cidade e nos arredores que centenas de milhares de pessoas encontraram refúgio em campos improvisados, depois dos grupos jihadistas terem atacado as suas aldeias.
Cerca de 2 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas desde o início do conflito, em 2009, que matou mais de 36.000 pessoas.
"É meu dever vir e votar nos representantes e conselheiros regionais porque eles são responsáveis pela minha localidade", disse Bukar Amar, um deslocado do conflito que votou na sua localidade a partir do campo de Bakassi, à AFP.
"Até agora, as eleições têm corrido bem e esperamos que todos os eleitores possam colocar o seu boletim de voto nas urnas antes do encerramento das mesas", disse Abdulrahman Bulama Ali, um funcionário eleitoral no campo.
Durante vários meses, as autoridades foram encorajando os deslocados a regressarem às suas aldeias, porque já não era financeiramente viável cuidar deles, uma vez que aquelas pessoas dependem quase inteiramente da ajuda humanitária para sobreviver e já não têm acesso aos campos.
Como resultado, um número significativo de deslocados regressou às suas aldeias, que tinham sido devastadas pela violência.
"Queremos voltar para casa e estas eleições locais são um grande passo para mim", disse Bukar ao meio-dia.
Os ataques estão a visar cada vez mais os madeireiros, pastores e pescadores. Acusam-nos de espionagem e de passarem informações aos militares e às milícias que combatem a violência jihadista na região.
O conflito, que dura há mais de uma década, criou uma crise humanitária dramática, recentemente agravada por más colheitas e restrições impostas pela pandemia.
"Registámos níveis de insegurança alimentar semelhantes aos de 2016-2017, no auge da crise humanitária, quando o risco de fome ameaçava o nordeste", disse Edward Kallon, Coordenador Humanitário das Nações Unidas na Nigéria, em novembro.
Cerca de 4,3 milhões de pessoas estavam em insegurança alimentar em junho de 2020, durante a época de escassez. A ONU prevê que este número aumente 20% no próximo ano.