O Sindicato dos Médicos, Farmacêuticos e Dentistas do Quénia anunciou que os seus 7.200 membros foram convidados a deixar de trabalhar até o governo satisfazer as suas exigências, o que significa que a maioria do pessoal médico queniano nos hospitais públicos está a fazer piquetes no meio de uma pandemia crescente.
O Quénia comunicou 94.500 casos de covid-19 desde que o primeiro positivo foi detetado, em meados de março, e 1.639 mortes.
Mais de 36.000 clínicos e enfermeiros iniciaram uma greve há 15 dias e as conversações para os fazer regressar ao trabalho entraram hoje em colapso, disse o secretário-geral adjunto da União dos Oficiais Clínicos do Quénia, Austine Oduor Otieno.
Até há pouco tempo, o número de infeções no Quénia estava abaixo dos países da Europa, da América Latina ou de qualquer outro lugar em África.
Só no mês passado é que um surto de infeção suscitou preocupação nacional, após a morte de quatro médicos num único dia.
A recente morte de um médico estagiário de 28 anos de idade, devido a complicações associadas à covid-19, tem sido usada para demonstrar os desafios que os médicos estão a enfrentar.
O sindicato decretou a greve para hoje na cidade natal deste jovem médico, no condado Kisii do Quénia ocidental, antes de assistir ao seu funeral.
"Ele encarnou as razões pelas quais temos de entrar em greve; é um jovem médico que morreu sem emprego formal... é um jovem médico que morreu sem estar coberto por um seguro nacional, é um jovem médico que morreu sem compensação", disse Kelvin Osur, dirigente sindical responsável pela região de Nyanza, no Quénia ocidental.
Nas últimas semanas, o ministro da Saúde do Quénia tem avisado os trabalhadores médicos que já estavam em greve e os que planeiam entrar em greve de que vão perder os seus empregos.
"Exorto-o a retomar o trabalho para evitar perder o seu emprego. À medida que caminhamos para o Natal, a época festiva, não seja mais uma estatística que será um candidato a emprego no próximo ano", disse Mutahi Kagwe.
Em resposta, o secretário-geral do Sindicato dos Médicos, Farmacêuticos e Dentistas do Quénia disse que as ameaças e intimidações só irão piorar as coisas.
"Parem de ameaçar e intimidar os nossos médicos. Se continuarem por esse caminho os trabalhadores da linha da frente ficarão em casa e quando ficarem em casa não haverá luta contra a covid-19", disse Mwachonda.
Mwachonda referiu que os médicos foram forçados a angariar fundos para os colegas que necessitavam de tratamento para a covid-19.
O sindicato exige que o governo crie instalações dedicadas ao tratamento de trabalhadores médicos, para além de seguros de vida abrangentes, pensões e equipamentos de proteção individual adequados.
De acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (Africa CDC), o Quénia regista atualmente 1.639 mortes devido à covid-19 e 94.500 casos de infeção pelo novo coronavírus.