Agência da ONU confirma que Irão iniciou enriquecimento de urânio a 20%
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) confirmou hoje que o Irão iniciou o processo de produção de urânio enriquecido a 20% numa fábrica subterrânea, violando o acordo nuclear assinado em 2015.
© Reuters
Mundo AIEA
"O diretor-geral Rafael Mariano Grossi informou os estados membros da AIEA que o Irão começou a fornecer urânio já enriquecido a 4,1% (...) com o objetivo de aumentar para 20%", anunciou a agência da ONU num comunicado.
Segundo o último relatório publicado em novembro pela AIEA, Teerão enriqueceu urânio em grau superior ao limite previsto no acordo internacional (3,67%), mas não ultrapassou o limite de 4,5%, e sempre cumpriu suas inspeções.
Mas a situação escalou após o assassínio, no final de novembro, do físico nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh.
Na sequência do ataque, atribuído pelo Irão a Israel, o Parlamento iraniano, com uma maioria conservadora, aprovou uma lei recomendando a produção e armazenamento de "pelo menos 120 quilogramas por ano de urânio enriquecido a 20%", bem como o fim das inspeções da AIEA.
O Governo iraniano ainda se tentou opor a esta decisão parlamentar, mas, em dezembro, o Conselho de Guardiães da Constituição, o árbitro entre o Governo e o Parlamento, aprovou a lei.
Hoje, o Governo confirmou que terá de implementar a lei, que leva ao aumento do volume de enriquecimento do urânio, o que a AIEA já confirmou.
A União Europeia já avisou que o enriquecimento de urânio a 20% "constituiria um afastamento considerável" dos compromissos do Irão, com "graves consequências".
Para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, o anúncio do enriquecimento reflete "as intenções (do Irão) de desenvolver o seu programa nuclear militar".
O acordo nuclear foi alcançado em Viena em 2015, após anos de duras negociações entre o Irão e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Reino Unido, China, França, Rússia, Estados Unidos) mais a Alemanha -- um tratado que os EUA abandonaram unilateralmente, em 2018, alegando a falta de cumprimento por parte de Teerão.
O acordo, que limita o programa nuclear iraniano em troca de isenção de sanções internacionais, estipula, entre outras restrições, que o Irão não pode enriquecer urânio a um nível superior a 3,67%.
As autoridades iranianas já ultrapassam esse limite máximo de pureza desde 2019, mas apenas até 4,5%, com o objetivo de pressionar os demais signatários do pacto para neutralizar as sanções americanas.
Antes de o acordo ser assinado, o Irão atingiu um nível de enriquecimento de 20%, por isso avisou que repetir esse gesto seria uma tarefa fácil.
Essa pureza, entretanto, permanece bem abaixo dos 85-90% necessários para fazer uma bomba nuclear, a principal preocupação da comunidade internacional, apesar de o Irão sempre ter negado ter esse objetivo.
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