"Fortalecer a economia digital, é a fórmula fundamental para combater a 'dolarização', para combater a especulação que golpeia duramente a nossa economia e, evidentemente, para evadir a inclemência do bloqueio financeiro [norte-americano] que tem sido aplicado contra o país", disse Jesus Faria.
O lusodescendente falava durante uma reunião da Comissão Permanente de Finanças e Desenvolvimento Económico (CPFDE) do novo parlamento, em que deu a conhecer parte da agenda de trabalhos da comissão.
Eleito deputado nas eleições legislativas de 06 de dezembro, em que a oposição aliada ao líder opositor Juan Guaidó não participou por considerar que era uma farsa do regime, Faria explicou que "há milhões de venezuelanos procurando a fórmula para produzir" no país e que vão ser desenvolvidos "um conjunto de instrumentos legais" para "promover o investimento nacional e internacional" em setores estratégicos.
"A Assembleia Nacional tem que legislar em função do investimento, dos salários, da economia social, de fortalecer os serviços públicos e de potenciar a economia nacional", frisou.
Faria, que entre 2016 e 2017 foi ministro de Comércio Externo e Investimento Internacional do Governo do Presidente Nicolás Maduro, sublinhou que "não se trata de privatizar nem entregar a soberania do país", mas de "potenciar o desenvolvimento económico com a incorporação de novos atores privados nacionais e estrangeiros".
"Há outros aspetos que são de grande importância (...) a promoção das exportações, a figura das zonas económicas especiais, nas fronteiras e em centros industriais para atrair investimentos", explicou.
O impulso da economia digital, a digitalização dos meios de pagamento, segundo o economista Jesus Casique, não solucionará o problema estrutural da economia venezuelana.
"O problema do 'efetivo' (dinheiro em 'cash') na Venezuela afeta a todos, é um complemento da liquidez monetária. O primeiro passo deve ser combater a hiperinflação. A digitalização significa diminuir o custo de impressão, de transporte e distribuição", disse aos jornalistas.
Segundo Jesus Casique a economia venezuelana necessita de "notas, porque há setores que não estão bancarizados".
No seu entender "já a economia está digitalizada" porque é possível "abrir contas em dólares, pedir cartões de crédito, fazer transferência e pagar em dólares no mercado local", apesar de que a moeda de uso legal continuar a ser o bolívar, na Venezuela.
Desde 2019 que os venezuelanos têm dificuldades para conseguir notas no mercado local, o que tem dificultado efetuar alguns pagamentos, entre eles dos transportes públicos.
A insuficiência de notas levou os bancos a limitar os levantamentos de dinheiro, uma situação que se agravou durante da pandemia de covid-19, mas de maneira particular nas últimas semanas onde o que é possível levantar diariamente é inferior ao custo de uma viagem de ida e volta mesmo de poucos quilómetros.
Os bancos disponibilizam diariamente, nos balcões de atendimento, quando autorizados a abrir, entre 200.000 e 400.000 bolívares (entre 0,09 e 0,18 euros) e um café custa à volta de 2.000.000 bolívares (0,91 euros), mais de 10 vezes o valor permitido.