Suu Kyi está novamente detida, mas o apoio internacional não é o mesmo
Muitos dos seus anteriores apoiantes na comunidade internacional não esquecem a sua deferência relativamente aos militares e à forma como chegou a defender e a disputar as alegações das atrocidades cometidas pelos militares contra os rohingya.
© Reuters
Mundo Aung San Suu Kyi
Após o golpe de estado concretizado pelos militares em Myanmar, Aung San Suu Kyi, a líder civil do país e laureada com um Prémio Nobel da Paz, encontra-se novamente em prisão domiciliária, tal como há cerca de uma década.
Vários países e as Nações Unidas (ONU) insurgiram-se contra o golpe de estado, mas a verdade é que Aung San Suu Kyi já não goza do mesmo apoio que teve da comunidade internacional durante os quase 15 anos em que esteve detida na sua residência.
Enquanto esteve no poder Suu Kyi foi criticada pela deferência aos generais e até pela forma como defendeu as atrocidades cometidas pelos militares contra os muçulmanos rohingya, que os Estados Unidos e outras nações consideraram ser genocídio.
“Acredito que a Aung San Suu Kyi tem sido cúmplice dos militares. Espero que ela perceba que o facto de ter compactuado com o diabo se voltou contra ela, e que agora tome a posição correta em nome da democracia” e se torne uma verdadeira defensora dos direitos humanos, salientou Bill Richardson, um diplomata norte-americano, em declarações à Associated Press.
“Mas se ela não se afastar, acho que o National League for Democracy (NLD, o partido de Suu Kyi) precisa de encontrar novos líderes”, acrescentou Richardson.
No seio da comunidade internacional, muitos não esquecem a forma como Aung San Suu Kyi reagiu no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, há cerca de um ano, os crimes alegadamente cometidos pelos militares contra os rohingya. A líder birmanesa disputou as alegações de que militares teriam assassinado civis rohingya, incendiado as suas casas e violado mulheres. Isto apesar dos testemunhos e relatos impressionantes das vítimas nos últimos anos.
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Jody Williams, também laureada com um Prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho para desarmar as minas terrestres, viu essa posição de Suu Kyi como uma traição. “Para lá da retórica durante as campanhas para eleições, em que é que ela realmente acredita? O que é que a democracia significa para ela?”, questionou Williams.
Suu Kyi considerou que as críticas que lhe foram feitas no passado foram injustas, argumentando que nunca se considerou uma ícone dos direitos humanos, que essa distinção lhe foi imputada por outros. Ao invés, Suu Kyi realçou que foi sempre uma política.
Mas apesar do decrescente apoio no exterior, no seu país Suu Kyi continua a ser extremamente popular. Robert Taylor, um académico que se especializou na história de Myanmar, defende que qualquer transição democrática terá de passar por Suu Kyi.
“Ela vai ter 76, 77 anos quando forem organizadas as próximas eleições. Estará enfraquecida, mas enquanto estiver viva vai continuar a ser a número um”, ressalvou Taylor.
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