Várias províncias disseram que o fariam.
O primeiro-ministro, Justin Trudeau, também expressou o seu otimismo, enquanto o regulador da saúde no país afirmou que as provas emergentes sugerem uma elevada eficácia durante várias semanas após a primeira dose, divulgando a recomendação do painel numa publicação na rede social Twitter.
Contudo, dois responsáveis de saúde de topo classificaram esta hipótese como uma experiência.
O protocolo atual estabelecido pelo Governo canadiano é de um intervalo de três a quatro semanas entre doses para as vacinas Pfizer e Moderna e de quatro a 12 para a AstraZeneca. A Johnson & Johnson é uma vacina de uma dose, mas ainda não foi aprovada no Canadá.
O Comité Consultivo Nacional de Imunização disse que o alargamento do intervalo entre doses para quatro meses permitiria a 80% dos canadianos com idade superior a 16 anos receberem uma única dose até ao final de junho, simplesmente com o fornecimento esperado de vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna.
As segundas doses começariam a ser administradas em julho, à medida que mais remessas chegassem, disse o painel, observando que se espera que 55 milhões de doses sejam entregues em julho, agosto e setembro.
Em comparação, o Governo federal afirmara anteriormente que 38% das pessoas iriam receber duas doses até ao final de junho.
"Eles estão a fazer, penso eu, um cálculo razoável, numa altura de escassez de medicamentos", disse o professor de doenças infecciosas na Universidade de Toronto e diretor médico do Programa de Gestão Antimicrobiana na Sinai-University Health Network, Andrew Morris.
"É a decisão certa para mim. Deixem-me perguntar ... A um casal são dadas duas vacinas. Dão duas a um, ou dão uma dose a cada um? Não há discussão", defendeu.
A adição da recém aprovada vacina AstraZeneca ao fornecimento do país pode significar que quase todos os canadianos receberiam a primeira vacina nesse período de tempo.
"A eficácia da primeira dose será acompanhada de perto e a decisão de adiar a segunda dose será continuamente avaliada com base em dados de vigilância e eficácia e desenhos de estudos pós-implementação", escreveu o painel.
"A eficácia contra variantes preocupantes será também acompanhada de perto, e as recomendações poderão ter de ser revistas", salientou, acrescentando que não há atualmente provas de que um intervalo mais longo irá afetar o aparecimento das novas estirpes.
A orientação atualizada aplica-se às três vacinas atualmente aprovadas para utilização no Canadá.
A recomendação da comissão de peritos chegou horas depois de a província da costa atlântica da Terra Nova e Labrador ter dito que iria alargar o intervalo entre a primeira e a segunda dose para quatro meses, e dias depois de as autoridades sanitárias da província da Colúmbia Britânica, na costa do Pacífico, terem anunciado que o estavam a fazer.
Manitoba e Québec também disseram na quarta-feira que vão adiar as segundas doses. E o ministro da saúde do Ontário disse que aquela província iria acelerar rapidamente o lançamento de vacinas.
Anteriormente, Trudeau disse que qualquer alteração nas orientações de saúde pública relativamente ao calendário das duas doses poderia afetar a velocidade de lançamento da vacina no Canadá, assim como a aprovação de mais vacinas, como a da Johnson & Johnson.
As províncias canadianas administram os cuidados de saúde no país, pelo que, em última análise, é às províncias que compete a decisão.
O vice-presidente executivo de ciência e investigação da University Health Network, Brad Wouters, lançou dúvidas sobre a recomendação.
"Ninguém no mundo esperou quatro meses entre doses", sublinhou. "Estas são vacinas RNA nunca antes utilizadas. Deveríamos utilizar provas para tomar decisões. O Canadá está a conduzir uma experiência populacional", publicou Wouters no Twitter.
A Conselheira Científica Principal do Governo federal, Mona Nemer, também sustentou esta semana que o plano equivale a uma "experiência a nível populacional" e que os dados fornecidos até agora pela Moderna e pela Pfizer-BioNTech se baseiam num intervalo de três a quatro semanas entre as doses.
Contudo, a oficial de saúde da província de Colúmbia Britânica, Bonnie Henry, argumentou que os fabricantes estruturaram os seus ensaios clínicos dessa forma para colocar as vacinas no mercado o mais rapidamente possível, mas que a investigação realizada nas províncias canadianas da Colúmbia Britânica e Québec, bem como em Israel e no Reino Unido, mostrou que as primeiras doses são altamente eficazes.
A consultora médica chefe da Health Canada, Supriya Sharma, sustentou que, num período de fornecimento limitado, em países que atrasaram a segunda dose, começa a ver-se provas de que se mantém "uma eficácia realmente boa".
"Temos estudos de laboratório que mostram que é improvável que a resposta imunitária venha a diminuir", concluiu Sharma.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.549.910 mortos no mundo, resultantes de mais de 114,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço da agência de notícias France-Presse (AFP).
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