Os advogados do escritório internacional PGMBM entendem que a medida, em vigor desde 15 de fevereiro, tem elementos de ilegalidade, nomeadamente a necessidade de pagamento de 1.750 libras (2.040 euros), que pode estar a violar o direito internacional e os direitos humanos, em especial das crianças.
"Esta medida extraordinária parece ter sido introduzida sem qualquer consideração adequada sobre como a sua aplicação desproporcional e igual para todos penaliza cidadãos e residentes vulneráveis", afirmou Tom Goodhead, advogado e sócio do escritório, que tem presença no Reino Unido, Brasil e Estados Unidos.
"Acreditamos que o regime de custos exorbitantes imposto pelo Governo é chocante e ilegal, sem provisões adequadas para aqueles que têm uma necessidade urgente de viajar", disse.
O Reino Unido proibiu as viagens de 33 países, maioritariamente africanos e sul-americanos, exceto para nacionais ou residentes, para reduzir o risco de importação de variantes do coronavírus que sejam mais infecciosas e resistentes às vacinas, como aquelas descobertas no Brasil e África do Sul.
Portugal é o único país europeu nesta "lista vermelha", pelo que os viajantes que cheguem ao Reino Unido provenientes de Portugal são obrigados a cumprir quarentena de 10 dias num hotel designado pelas autoridades e pagar o custo de 1.750 libras (2.030 euros).
Embora os advogados reconheçam a importância de proteger a saúde pública, acreditam que estas restrições são ilegais porque violam regras da Organização Mundial da Saúde, que proíbem custos sobre a quarentena, e porque desrespeitam legislação britânica pois causa entraves aos residentes no Reino Undo para entrarem no país.
Questionam também a validade da medida no âmbito da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e outras leis de proteção das liberdades fundamentais, alegando que "as crianças são desproporcionalmente afetadas".
O escritório disse que enviou uma carta urgindo o Governo a remover os custos e a anunciar alterações à política até 15 de março, senão pretende pedir aos tribunais uma revisão judicial que possa abrir caminho a um processo nos tribunais.
Um dos dois clientes que o PGMBM representa atualmente é uma jovem luso-britânica de 16 de anos, que se encontra em Portugal e está impossibilitada de regressar ao Reino Unido e às aulas que recomeçaram na segunda-feira, adiantou um porta-voz à Lusa.
Os advogados, que trabalham regularmente em processos civis contra grandes empresas multinacionais, estão a angariar fundos numa plataforma de financiamento coletivo (crowndfunding), tendo já garantido perto de metade das 20 mil libras (23,3 mil euros) estipuladas como necessárias para lançar o caso.
Entretanto, uma petição junto do Parlamento britânico para convencer o Governo britânico a retirar Portugal da "lista vermelha" de países sujeitos ao regime de quarentena em hotéis designados lançada na semana passada já conseguiu mais de 14 mil assinaturas, ultrapassando a barreira das 10 mil que implica uma resposta do Executivo.
Embora admita que a composição da "lista vermelha" de países de risco possa ser alterada, o Governo britânico afirmou anteriormente que não pretende alterar as regras atuais antes de 17 de maio, após avaliar um estudo com recomendações para o restabelecimento seguro de viagens internacionais.
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