Numa sessão na quarta-feira no Senado para explicar os esforços do ministério para obter vacinas contra o novo coronavírus, Araújo foi duramente criticado por parlamentares de diferentes partidos que pediram para que se demitisse.
"Pede para sair e durma com a consciência tranquila de que o senhor vai ajudar a salvar vidas", afirmou a senadora Mara Gabrilli, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
"O senhor faria bem ao corpo diplomático brasileiro se deixasse o seu posto", disse o senador Fabiano Contarato, da Rede Sustentabilidade.
Críticas ao ministro também foram feitas por elementos de forças que apoiam o Governo, como a senadora Daniella Ribeiro, do Partido Progressistas (PP).
A senadora afirmou que Araújo se fazia de desentendido para não responder às perguntas que lhe fez sobre uma viagem de uma delegação brasileira a Israel, liderada pelo ministro no início do mês para obter informações sobre um 'spray' nasal usado no tratamento da covid-19, ainda em fase inicial de desenvolvimento.
"Não sei se o chanceler [ministro] não entende ou se faz-se de desentendido. Provavelmente seja assim nas nossas relações exteriores", afirmou Daniella Ribeiro.
Já Simone Tebet, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) disse ao ministro que "está no lugar errado".
A presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP), questionou a capacidade de Araújo em negociar com parceiros do Brasil para obter consumíveis e vacinas, lembrando posições ideológicas suas contra a China e o novo Governo dos EUA.
"O senhor se sente realmente à vontade, como chanceler do Brasil, para fazer essas ligações, essa interlocução, essas reuniões remotas com esses países, com a China e com os Estados Unidos, diante deste quadro diplomático desastroso, ministro?", perguntou Abreu.
Os senadores brasileiros avaliam que a má relação de Araújo com os governos da China, principalmente com o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, problemas no relacionamento diplomático com a Índia, um grande fornecedor de consumíveis e vacinas, e a demora de o Brasil em reconhecer a eleição do Presidente Joe Biden, nos EUA, atrapalham o país.
Em relação aos EUA o ministro brasileiro, notório admirador do ex-presidente Donald Trump, terá sido um dos responsáveis pela demora do Governo brasileiro em reconhecer o resultado das eleições que levaram Biden ao poder.
Araújo também teve uma reação ambígua ao comentar a invasão do Capitólio, protagonizada por apoiantes de Trump, insinuando que infiltrados e não apoiantes do ex-presidente cometeram os atos de violência no Congresso norte-americano.
Já a relação do chefe da diplomacia brasileira com o Governo chinês se deteriorou no ano passado após Araújo pedir um pedido de desculpas do embaixador chinês Yang Wanming ao sair em defesa de Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que insinuou que a China criou o SARS-CoV-2, que causa a covid-19, para beneficiar economicamente da pandemia.
Com a Índia, os problemas diplomáticos começaram em outubro de 2020 quando o Brasil votou contra uma proposta do país asiático e da África do Sul na Organização Mundial do Comércio (OMC) para a suspensão de patentes de medicamentos usados no combate à covid-19.
A decisão da diplomacia brasileira, comandada por Araújo, contrariou posições históricas do país que sempre votou a favor de quebra de patentes de remédios.
Os 'media' brasileiros também relataram, na quarta-feira, que Araújo foi criticado pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, numa reunião com Bolsonaro, parlamentares, governadores e ministros no Palácio da Alvorada, em que foi decidida a criação de um comité nacional para acompanhar a pandemia.
Na reunião, Lira afirmou que o Ministério das Relações Exteriores precisa deixar a ideologia de lado e negociar com todos os países.
Segundo informações do jornal O Globo, além de ouvir críticas, se o Governo brasileiro optar por manter Araújo no cargo haverá um bloqueio no Senado, casa legislativa responsável por analisar embaixadores nomeados para postos no exterior.
O Brasil já registou 300.685 óbitos e 12.220.011 casos positivos de covid-19.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.745.337 mortos no mundo, resultantes de mais de 124,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.