"É claro que, em primeiro lugar, a empresa tem de recuperar o atraso, tem de honrar o contrato que tem com os Estados-membros europeus antes de poder voltar a exportar vacinas", declarou Ursula von der Leyen, quando questionada sobre os problemas de distribuição da AstraZeneca para a UE.
Respondendo aos jornalistas no final de uma cimeira virtual de líderes consagrada aos problemas com a campanha de vacinação contra a covid-19 na UE, a líder do executivo comunitário insistiu que "as empresas [farmacêuticas] têm de honrar o seu contrato com a União Europeia, antes de exportarem para outras regiões do mundo", de forma a assim garantir que os cidadãos europeus "recebem a sua quota-parte justa" de doses de vacinas.
A AstraZeneca tem estado envolta em polémica devido à incapacidade de distribuição para a UE e também à exportação de vacinas de fábricas na UE para países terceiros, nomeadamente para o Reino Unido, o que levou Bruxelas a criar em janeiro passado um sistema de controlo de tais operações.
Na quarta-feira, a Comissão Europeia anunciou um reforço deste mecanismo de transparência e de autorização para exportações de vacinas, num esforço para assegurar o acesso atempado aos fármacos contra a covid-19 através da introdução dos princípios de reciprocidade e proporcionalidade.
"É muito bom que tenhamos introduzido este mecanismo porque o que queríamos era, antes de mais, transparência, e criámos transparência, e isso é uma transparência sobre exportações de que nos podemos orgulhar", disse Ursula von der Leyen aos jornalistas.
Ao todo, até hoje, foram já exportadas 77 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 da UE para países terceiros, montante que inclui a entrega de 31 milhões para 54 países de rendimento baixo e médio constantes da lista do mecanismo COVAX (Acesso Global às Vacinas da Covid-19).
Já questionada na conferência de imprensa sobre a descoberta de 29 milhões de vacinas contra a covid-19 da AstraZeneca armazenadas numa fábrica em Itália, perto de Roma, Ursula von der Leyen disse que "a companhia deixou claro que, do total, 13 milhões são para o COVAX e 16 milhões são para os Estados-membros europeus".
"E de facto é importante para nós que as vacinas estejam a ser entregues ao COVAX, que é o principal pilar para garantir que os países de rendimento baixo e médio têm acesso às vacinas", adiantou a líder do executivo comunitário.
Ursula von der Leyen não disse mais nada sobre a descoberta polémica, que ocorreu durante uma inspeção da polícia italiana a uma fábrica de produtos farmacêuticos que produz para a AstraZeneca (a farmacêutica costuma recorrer a subcontratadas).
Presente na ocasião, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, admitiu existirem "algumas preocupações sérias em relação a esta única empresa", a Astrazeneca.
"E esperamos que, com o apoio deste instrumento [o mecanismo de autorização para exportação], seja possível não só aumentar a produção e a entrega, mas também aumentar não só a produção, como também as entregas", adiantou Charles Michel.
O agravamento da situação epidemiológica relativa à covid-19 na UE foi ainda mencionado por Ursula von der Leyen, que disse aos jornalistas que, neste que é o início da terceira vaga na Europa, o aumento das infeções é "de grande preocupação", apesar de se registarem "níveis mais baixos" de mortalidade, devido à vacinação dos idosos.