Bolsonaro fez reforma ministerial para acomodar aliados

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, promoveu uma reforma ministerial trocando titulares de seis pastas para acomodar aliados e conter críticas, mas o resultado destas manobras ainda é incerto, segundo analistas consultados pela Lusa.

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Lusa
30/03/2021 22:53 ‧ 30/03/2021 por Lusa

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"Houve uma acomodação do centrão [bloco informal que reúne parlamentares de partidos de centro e centro-direita] dentro do Governo, mas, ficou claro que o Presidente Bolsonaro também movimentou ministros, movimentou o primeiro escalão para manter nos postos chaves aqueles que lhe são fiéis", avaliou Rodrigo Prando, sociólogo e professor da Universidade Mackenzie.

Na segunda-feira, o Governo brasileiro, muito pressionado por aliados no Congresso para demitir o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, acabou anunciando uma reforma ministerial mais ampla e alterou num único dia, de forma inesperada, a titularidade da pasta das Relações Exteriores, mas também do Ministério da Justiça, da Casa Civil, da Defesa, da Secretaria de Governo e da Advocacia-Geral da União.

Segundo Prando, estas mudanças não podem ser entendidas simplesmente como um rearranjo de forças normal dentro do Governo já que o Presidente do Brasil, que tem sido muito criticado pela condução da pandemia, por promover constantes atritos com adversários políticos e pela volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário eleitoral estaria "reagindo um conjunto de fatores que o pressionam."

"Estas mudanças da segunda-feira indicam que o Governo está reagindo às pressões que tem recebido, mas especialmente tem reagido de maneira tardia e mal a tudo que está acontecendo. Há mais um sinal desnorteamento, o Governo está sem bússola, o Governo está sem um norte," frisou Prando

"Estas adequações que ele [Bolsonaro] fez no primeiro escalão no limite não mudam substancialmente os rumos no Governo. Ele quer, na verdade, não perder o poder que ainda tem, mas o Presidente hoje é um Presidente acuado em todos os sentidos", acrescentou o especialista.

Para a socióloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Rosemery Segurado as mudanças no alto escalão do Governo brasileiro também indicaram um movimento de ceder espaço para partidos fisiológicos de centro-direita em troca de apoio que ela considera momentâneo e com resultados e efeitos ainda muito incertos.

"Acho que o cenário é muito incerto, temos um capítulo desta reforma, mas me parece que nós ainda teremos alguns desdobramentos durante a semana", avaliou Rosemery Segurado.

Questionada se acredita que Bolsonaro pode ser alvo de protestos como os que ocorreram no Paraguai em favor da destituição do Presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, que também é criticado pela liderança na pandemia, a professora da PUC avaliou que o Brasil tem um cenário mais complexo do que o país vizinho, já que atos podem partir também de apoiantes do chefe de Estado e não só de populares insatisfeitos.

"Com os níveis de fome, de pobreza, de miserabilidade e sem nenhuma ação efetiva acho que [o Brasil] é um barril de pólvora. Não sei se chega nos níveis de crise que assistimos no Paraguai, mas acho que além dos problemas temos [no Brasil] as milícias e militares que apoiam a base bolsonarista estão bastante insuflados", frisou a professora da PUC-SP.

"Nos últimas dias, nas últimas três semanas a temperatura está subindo muito rapidamente no Brasil. Se nós tivermos lideranças políticas que consigam catalisar isto para uma perspetiva mais progressista podemos ter um outro cenário de tentar construir saídas alternativas. Se não, teremos provavelmente manifestações descoordenadas e que podem ser bastante perigosas", acrescentou.

Usando a imagem de um elástico, Rosemary Segurado lembrou que os partidos de centro-direita, que apoiam o Governo em troca de cargos e recursos para satisfazer suas bases, podem desembarcar do Governo como já indicou o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, na semana passada, ao falar na necessidade de haver uma correção de rumos e "dos remédios amargos" que o Congresso pode aplicar.

"É como um elástico que você vai esticando, esticando e esticando. Uma hora estas forças explodem. Se o centrão desembarcar, Bolsonaro será destituído. Se o centrão olhar e achar que o peso deste Governo é grande demais ele rapidamente resolverá este problema", concluiu a professora da PUC-SP.

Leia Também: Bolsonaro faz reforma Ministerial e altera titulares de 6 pastas num dia

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