O assunto deste processo é o da "proteção das nossas vidas privadas em relação a uma ameaça, a da vigilância em massa", declarou a procuradora Paméla Tabardel perante o Tribunal de Versalhes, perto de Paris, solicitando que a resposta penal envie uma "mensagem forte" destinada a "todas as sociedades comerciais".
Revelado pelo semanário Le Canard Enchaîné e o sítio noticioso Mediapart, em 2012, o processo foi instruído depois da queixa de um sindicato, o que abalou a Ikea France, que então despediu quatro dos seus dirigentes.
Este caso evidenciou um sistema de vigilância dos trabalhadores e de alguns clientes, incluindo os seus antecedentes, o seu modo de vida e o seu património.
Entre os acusados estão também 15 pessoas físicas, entre as quais diretores de lojas, agentes da polícia, o patrão de uma empresa de investigações privada e antigos dirigentes, como o antigo presidente-executivo Stefan Vanoverbeke e o seu antecessor Jean-Louis Baillot, presentes no primeiro dia do julgamento.
Hoje, a procuradora solicitou a libertação de dois dirigentes, mas requereu três anos de prisão, dos quais dois com pensa suspensa, para Baillot, que dirigiu a empresa entre 1996 e 2009. "Desejo uma pena que marque a vida de Jean-Louis Baillot", justificou, aduzindo que a "política iniciada" por este tinha afetado a vida de cerca de 400 trabalhadores, que foram alvo de "investigações privadas".
Os factos em julgamento ocorreram entre 2009 e 2012, mas as práticas ilegais remontam a 2000. Aqueles três anos são os únicos em consideração devido à prescrição.
O antigo responsável pela segurança da Ikea, Jean-François Paris, foi o único dirigente a admitir em tribunal os "controlos massivos" dos empregados. A procuradora reclamou três anos de prisão, dos quais dois com pena suspensa.
Em audiência, Paris repetiu que seguiu ordens de Jean-Louis Baillot.
Diretor da gestão de riscos da Ikea France de 2002 à 2012, Jean-François Paris transmitia as listas de pessoas a "testar" à Eirpace, dirigée par Jean-Pierre Fourès.
O domo desta empresa especializada em "conselho de negócios" é acusado de, através de agentes da polícia, ter tido acesso a ficheiros policiais.
Antigo polícia das 'Renseignements Généraux' (RG, o antigo serviço de informações da polícia), Fourès tinha provocado gargalhadas no tribunal, aquando do seu interrogatório, ao diz que tinha usado apenas "imaginação e engenho" para obter as informações que pretendia. A procuradora requereu que fosse condenado a um ano de prisão efetiva.
A defesa vai argumentar na quinta-feira.
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