"Uma vez estando na Tanzânia, não são mais deslocados, mas sim refugiados", alertou António Juliasse, durante uma conferência de imprensa, hoje, na cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.
Na segunda-feira, um dos integrantes do grupo de deslocados disse à Lusa que eram entre 200 a 500 pessoas, incluindo muitas crianças, a caminhar cerca de 50 quilómetros em direção à fronteira desde o dia do ataque.
"A comunicação que chegou a nós indica que eles não estavam a ser devidamente a acolhidos", disse António Juliasse, acrescentando que a diocese de Pemba contactou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
"Poderá haver vários outros grupos que tomaram outros caminhos e podem ter atingido aquele país vizinho", atravessando o rio Rovuma, que divide os dois países, alertou o administrador apostólico da diocese de Pemba.
A fuga em direção à Tanzânia foi um aspeto destacado durante a intervenção de hoje sobre o mais recente ataque - e o de maior impacto internacional - na vaga de violência armada em Cabo Delgado, desde 2017.
António Juliasse pediu um envolvimento "generalizado" no apoio às pessoas afetadas.
"Com a falta de comunicação com Palma, generalizou-se a preocupação e o desespero das pessoas que tinham colegas amigos e familiares lá", concluiu.
A vila de Palma situa-se a cerca de 25 quilómetros da área em que se desenvolve o projeto de gás natural do consórcio liderado pela multinacional Total, em Afungi, província de Cabo Delgado, norte do país, no que será o maior investimento privado em África.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da Organização das Nações Unidas, e mais de duas mil mortes, segundo uma contabilidade feita pela Lusa.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
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