Katalin Karikó, de 66 anos de idade, é uma das heroínas da pandemia do novo coronavírus. O seu trabalho, em conjunto com o seu colaborador Drew Weissman, na Universidade da Pensilvânia, criou as bases que permitiram à Pfizer-BioNTech e à Moderna criar rapidamente uma vacina contra a Covid-19 e que, em breve, serão aplicadas na luta contra o cancro. Durante anos, porém, ninguém deu crédito ao seu trabalho.
Para se ter uma ideia do que se trata, relembre-se os exemplos de Uğur Şahin e Özlem Türeci, o casal de cientistas imigrantes por trás da vacina da Pfizer. Tornaram-se notícia pela sua história pessoal, persistência e pela descoberta do fármaco, baseado na tecnologia mRNA. É aqui que entra Katalin Karikó. Toda a sua vida de trabalho foi dedicada ao estudo do ARN mensageiro (mRNA, na sigla em inglês).
Todavia, durante anos, segundo relata o New York Times, o seu estudo foi desvalorizado, a sua carreira na Universidade da Pensilvânia, inclusive, esteve fragilizada. Ia passando de laboratório em laboratório, apelando a diferentes cientistas sénior para que acolhessem a sua teoria. Nunca ganhou mais do que 60 mil dólares por ano (cerca de 50 mil euros).
Descrita pelo infeciologista norte-americano Anthony Fauci como "obcecada com o conceito de RNA mensageiro, num sentido positivo", Karikó dependia de bolsas de investigação para perseguir as suas teorias, que, na altura, pareciam fantasiosas aos olhos dos seus colegas. "Quando a tua ideia vai contra o conhecimento convencional que faz sentido ao núcleo duro, é muito difícil de avançar", disse David Langer, um neurocirurgião que trabalhou com a cientista.
Publicou o primeiro artigo científico sobre o tema em 2005, quando ninguém falava sobre isso e numa altura em que tinha sido despromovida pela Universidade da Pensilvânia por insistir no estudo do mRNA.
As ideias de Karikó acabariam por se revelar prescientes. Atualmente, a cientista faz parte da direção da BioNtech e é uma das pioneiras no estudo de uma tecnologia que se provou ser essencial. O seu trabalho, em conjunto com Weissman, é descrito como sendo merecedor de prémio Nobel.
As vacinas da BioNTech-Pfizer, tal como as da concorrente norte-americana Moderna, usam a tecnologia mRNA, em que um fragmento do código genético do vírus transporta instruções para o organismo humano conseguir desenvolver anticorpos específicos. O mesmo princípio poderá ser utilizado para ajudar o sistema imunológico a combater os tumores.
"Temos várias vacinas diferentes contra o cancro com base na tecnologia mRNA", disse Özlem Türeci, diretora médica da BioNTech. A cientista frisou que "é muito difícil prever o desenvolvimento de uma inovação", mas mostrou-se esperançada em que "dentro de alguns anos possamos ter vacinas contra o cancro" para oferecer às pessoas.
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