Como se confunde taser e arma de fogo? Há explicação, "não há desculpa"
Agente de autoridade matou um jovem numa operação de trânsito, depois de ter alegadamente confundido a arma de fogo com o taser. Especialistas dão a sua visão, à NBC News, sobre o que poderá ter acontecido.
© Reprodução
Mundo Daunte Wright
Kim Potter, a veterana agente da polícia do Minnesota que no passado domingo disparou fatalmente contra um jovem afro-americano numa operação de trânsito, demitiu-se, juntamente com o chefe da sua esquadra, depois de ter alegadamente confundido o taser (arma não letal de descarga elétrica) com a arma de serviço.
A questão em discussão, nesta altura, é esta teoria apresentada pelo chefe da polícia de Brooklyn Center, Tim Gannon. A NBC News questionou alguns especialistas e polícias veteranos para tentar perceber como é possível essa confusão, sendo que todos convergem na possibilidade de a agente ter sido ludibriada pela pressão em conjunto com a memória instintiva.
De acordo com a mesma publicação, a arma que a agente empunhava, e com a qual baleou mortalmente Daunte Wright, é de metal preto e, pelo menos, 400 gramas mais pesada do que um taser, que é de plástico e pode ser preto ou amarelo fluorescente.
A sargento Betsy Brantner Smith, porta-voz da Associação Nacional de Polícia e polícia reformada, defendeu que "a Glock (arma usada por Kim Potter) é uma arma muito leve" e que "o taser é mais pesado do que se pensa". Já Dennis Kenney, um docente de Justiça Criminal e antigo polícia, não concorda totalmente. "Colocadas na mão, a sensação é diferente", indicou.
Ainda assim, segundo a NBC, embora os cabos das duas armas sejam feitos de um polímero similar, as armas Glock têm uma alavanca de segurança embutida no gatilho e os tasers não. Além disso, a maior parte dos departamentos de polícia, incluindo o de Brooklyn Center, exige que os agentes coloquem as armas de fogo no seu lado dominante e os tasers do outro lado, para evitar o risco de confusão.
"No vídeo, vê-se que os agentes cumpriam essa regra", acrescentou Betsy Brantner Smith, indicando que a explicação possível é que Potter tenha experienciado um fenómeno chamado "slips and capture" (escorregões e captura, numa tradução literal), algo que, aplicado às forças policiais, simboliza os erros ocorridos em situações de muita tensão, quando o agente reage instintivamente.
"Não é como se ela tivesse olhado para a arma e tivesse pensado que era um taser. É uma falha motora horrível que pode acontecer em situações de stress elevado", afirmou.
"As pessoas subestimam o nível de stress que os agentes da polícia experienciam em operações de trânsito. Muitos agentes são mortos enquanto fazem operações STOP rotineiras. Quanto mais tempo se está no serviço, mais camadas de stress se acumulam. E os erros de julgamento acontecem quando se está sob stress", indicou Maria Haberfeld, também docente de Justiça Criminal.
Dennis Kenney, porém, sublinha: "Não há indicação de que a agente tinha intenção de usar força letal. Dito isto, nada pode desculpar este erro".
Os factos reportam-se a domingo, quando o afro-americano Daunte Wright, de 20 anos, foi parado num controlo de trânsito. De acordo com os agentes, o veículo foi intercetado porque não tinha alguns papéis em ordem.
As autoridades pediram a Wright para se identificar e depois perceberam que havia um mandado pendente por não comparecer em tribunal pelos crimes de posse ilegal de arma e por resistir à detenção. Quando estavam a detê-lo, o jovem resistiu, tentando voltar para o veículo, e foi baleado pela polícia.
Leia Também: Agente que confundiu arma com taser tem 26 anos de serviço na polícia
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com