Acordo nuclear: Negociações "positivas" em Viena após dias de tensão
As discussões para salvar o acordo internacional sobre o nuclear iraniano terminaram hoje em Viena com uma "impressão geral positiva", segundo a Rússia, após vários dias de tensão e quando Teerão se prepara para enriquecer urânio a 60%.
© Getty Images
Mundo Acordo nuclear
Os Estados signatários do acordo (França, Alemanha, Reino Unido, Rússia, China e Irão) - os Estados Unidos, igualmente subscritores, retirou-se em 2018 -, reuniram-se durante cerca de duas horas, antes do início das negociações técnicas.
A "impressão geral é positiva" e a reunião que "terminou" será "seguida de uma série de encontros informais", indicou o embaixador russo na Áustria, Mikhail Ulyanov, na rede social Twitter.
"Congratulamo-nos por ver todos de regresso a Viena, prontos para fazer avançar as negociações, apesar dos acontecimentos difíceis dos últimos dias", escreveu na mesma rede social o coordenador da União Europeia, Enrique Mora.
Nos últimos dias, os países ocidentais deram conta da sua deceção com a decisão do Irão de ultrapassar o limite sem precedentes de 60%, que significa poder atingir os 90% necessários para fins militares.
França, Alemanha e Reino Unido consideraram que o anúncio de Teerão constituía um "desenvolvimento grave porque a produção de urânio altamente enriquecido constitui uma etapa importante para a produção de uma arma nuclear".
Consideraram igualmente tratar-se de um passo "contrário ao espírito" das discussões em Viena para salvar o acordo nuclear.
No mesmo sentido, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, considerou que o anúncio "põe em questão" a "seriedade" da República Islâmica nas discussões na capital austríaca.
A República Islâmica enriquece atualmente urânio a 20%, já além do limite máximo de 3,67% autorizado pelo acordo de 2015.
"As nossas atividades nucleares são pacíficas, não tentamos obter a bomba atómica", afirmou hoje o Presidente do Irão, Hassan Rohani, num discurso divulgado pela televisão estatal.
O enriquecimento de urânio a 60% é uma "resposta" ao "terrorismo nuclear" de Israel após a explosão no domingo na central de enriquecimento de Natanz, argumenta Teerão, que acusa os israelitas de terem sabotado o local.
No início da reunião de hoje da comissão mista, Abbas Araghchi, presidente da delegação iraniana, lamentou a "fraca reação dos países europeus", considerando que as partes do acordo deveriam "condenar por unanimidade este acontecimento, sem considerações políticas", segundo um comunicado.
Berlim, Paris e Londres tinham alertado contra qualquer agravamento, "por parte de qualquer país".
O Irão repetiu hoje: para travar esta "espiral perigosa", os Estados Unidos devem levantar as sanções impostas por Donald Trump, após ter retirado o seu país do acordo em 2018. Em 2019, Teerão começou gradualmente a infringir os limites estabelecidos pelo pacto.
No âmbito do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), como é designado, o Irão aceitava limitações ao seu programa nuclear em troca do levantamento de sanções internacionais.
As negociações para fazer regressar os Estados Unidos ao pacto e o Irão ao respeito dos seus compromissos começaram na semana passada em Viena. Decorrem sob a égide da União Europeia e os norte-americanos participam indiretamente.
"Os acontecimentos dos últimos dias lembram a cada uma das partes que o 'statu quo' é sinónimo de perda para ambos os campos" e "aumentam a urgência", comentou Ali Vaez, especialista do dossier iraniano do centro de reflexão International Crisis Group (ICG), em declarações à agência France-Presse.
Vaez diz ser "claro que quanto mais o processo diplomático se arrastar, maior será o risco de ser prejudicado".
Mas os especialistas alertam que os obstáculos negociais são numerosos e que definir um roteiro aceitável para o Irão e para os Estados Unidos levará tempo.
Leia Também: Nuclear? Khamenei recusa conversações "que se eternizem"
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com