Relatório do governo britânico "tenta normalizar a supremacia branca"
Os especialistas das Nações Unidas consideram que o relatório "renova tropos racistas e estereótipos". Pedem ao governo de Boris Johnson que o rejeite.
© Getty Images
Mundo Racismo
Um relatório sobre disparidades raciais no Reino Unido continua a gerar polémica, e desta vez foram os especialistas em direitos humanos das Nações Unidas que fizeram duras críticas às conclusões do relatório que foi encomendado pelo governo britânico. Para os especialistas da ONU, o relatório tenta “normalizar a supremacia branca”, refere o The Guardian.
O relatório da autoria da Comissão de Raça e de Disparidades Étnicas foi publicado no final do mês passado, e concluiu que, embora o racismo e a injustiça racial ainda persistam na sociedade britânica, a geografia, a influência da família, o contexto socioeconómico, a cultura e a religião têm todos maior impacto nas oportunidades de vida.
O documento constatou ainda que não encontrou provas de racismo institucional nas diferentes áreas que examinou.
Num comunicado, o grupo de especialistas da ONU contestou estas conclusões. “Em 2021, é assombroso ler um relatório sobre raça e etnicidade que renova os tropos racistas e o estereótipos em factos, distorcendo dados e fazendo uma aplicação errada das estatísticas e dos estudos para conclusões e ataques ad hominem a pessoas de descendência africana”, assinalam.
Os especialistas criticaram o foco do relatório nas estruturas familiares para explicar as disparidades raciais, argumentando que se trata de uma “tentativa de rejeitar a realidade das pessoas de descendência africana e de outras minorias étnicas no Reino Unido”. Acrescentaram ainda que a comissão não conseguiu apresentar provas que sustentem a afirmação de que não há racismo institucional no Reino Unido.
“Esta tentativa de normalizar a supremacia branca, apesar das consideráveis investigações e provas de racismo institucional, é uma infeliz forma de evitar a oportunidade de reconhecer as atrocidades do passado e as contribuições de todos para podermos seguir em frente”, pode ler-se no comunicado dos especialistas da ONU.
Após a sua divulgação, o relatório foi amplamente condenado por deputados britânicos, sindicatos, ativistas pela igualdade.
O grupo de especialistas das Nações Unidas quer que o governo britânico rejeite o relatório e pede que seja assegurada “uma reflexão precisa dos factos históricos”, uma vez que a sua distorção pode contribuir para mais “racismo, a promoção de estereótipos raciais negativos, e a discriminação racial”.
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