"Haverá a mensagem maior que é a UE e a Índia estão prontas para trabalhar juntas. Esta é a primeira reunião de líderes, nunca aconteceu antes, e isso, já de si, é uma mensagem para o mundo. (...) A Índia e a UE são as duas maiores democracias do mundo: quando dançam juntas, enviam uma mensagem", diz o embaixador.
Em entrevista à Lusa no quadro da reunião de líderes UE-Índia, organizada pela presidência portuguesa do Conselho da UE, e que terá lugar este sábado em formato virtual, Santosh Jha destaca que os dois blocos "são parceiros naturais", existindo "muitas convergências" entre ambos, não só em "termos bilaterais" mas também no cenário internacional.
"É uma parceria muito abrangente, baseada nos nossos valores partilhados, que são a democracia, o Estado de direito, as liberdades fundamentais... São vários tipos de princípios políticos, quer seja dentro dos nossos sistemas e dos nossos países, quer seja ao nível internacional", salienta.
Perante o que qualifica de "crise sem precedentes" e que "ocorre apenas uma vez num século" - em referência à atual pandemia de covid-19 - Santosh Jha nota "um novo impulso" nas relações entre os dois parceiros.
Munindo-se de uma "memória de dez anos" relativa à parceria entre a UE e a Índia -- antes de ser embaixador junto da UE, Santosh Jha trabalhou, entre 2010 e 2013, enquanto chefe de missão adjunto na mesma embaixada --, o responsável diz que "nunca viu um nível de intensidade tão grande" nas relações entre os dois parceiros.
"Acho que o elemento mais importante é o desejo de trabalharmos juntos, de nos aproximarmos, de providenciarmos melhores benefícios aos nossos cidadãos, tanto na Índia como na Europa, de trabalharmos para a estabilidade ao nível global, mas também para a prosperidade e bem-estar económico da população de ambos os lados", sublinha.
Interrogado se, além da pandemia, a ascensão da China é também um elemento implícito que está a motivar a reaproximação entre os dois parceiros, Santosh Jha diz que "não gostaria de ver as relações entre a UE e a Índia como sendo 'motorizadas' por fatores externos".
"Não acho que haja apenas um único fator a explicar porque é que nos estamos a aproximar e a trabalhar juntos, e certamente não uma abordagem negativa relativa a outro país qualquer. As relações entre a UE e a Índia são sobre nós próprios, são sobre as nossas pessoas, e não são direcionadas a nenhum país", aponta.
Insistindo sobre o caráter "mutuamente benéfico" da parceria, o embaixador realça o seu caráter "multifacetado" e "multidimensional", tal como explicitado num documento que visa projetar as relações entre os dois parceiros, elaborado após uma cimeira virtual, em julho de 2020, entre a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
No texto, intitulado "Parceria Estratégica UE-Índia: Roteiro para 2025", a UE e a Índia comprometem-se a trabalhar em áreas tão vastas e distintas como a saúde, o clima, a segurança e política externa, inteligência artificial e conectividade ou desenvolvimento urbano e migrações.
Reconhecendo que "talvez não seja possível" trabalhar sobre todos estes temas "ao mesmo tempo e à mesma velocidade", Santosh Jha frisa que eles "estão interligados" e que "assim que se empurrar um para a frente, os outros, por inerência, irão também avançar".
"Não acho que uma relação tão grande -- que abarca 1,3 mil milhões de pessoas para a Índia, e 450 milhões para a Europa -- possa ser definida em termos estreitos. Se se observar qualquer outra relação entre dois países, também se vê que são igualmente multifacetadas e multidimensionais: não é algo único à relação UE-Índia", refere.
Questionado sobre se o facto de a reunião de líderes UE-Índia ser virtual -- estava inicialmente previsto que tivesse lugar fisicamente, com Narendra Modi a juntar-se aos 27 chefes de Estado e de Governo da UE no Porto -- reduz as ambições ou a margem para progresso na cimeira, Santosh Jha reconhece que "ficou um bocadinho dececionado" com a mudança, mas "ao mesmo tempo feliz" porque os líderes "decidiram, mesmo no formato virtual, manter o foco na reunião", estando os dois lados "muito determinados" a alcançar resultados.
"Não baixámos as expectativas, até as aumentámos: (...) temos a esperança de que, quando os dois lados se reunirem a 08 de maio, iremos ver resultados muito, muito significativos", salienta.
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