Falando no final de uma reunião de ministros da Defesa da União Europeia, em Bruxelas, Josep Borrell lembrou que "Portugal já ofereceu metade do pessoal" para a missão europeia, acrescentando que, "na verdade, já enviou instrutores militares" que se encontram já no terreno, mas salientou que "esta missão portuguesa deve ser considerada como um adiantamento" e tem de ser "complementada" por outros Estados-membros, o que disse esperar que aconteça em breve.
"A vontade política está lá e, com um forte contributo de Portugal, espero que os outros Estados-membros possam complementar" a missão, disse.
Na conferência de imprensa no final da primeira reunião presencial de ministros da Defesa em Bruxelas desde agosto do ano passado - devido à pandemia da covid-19 -, o Alto Representante da UE para a Política Externa, que à entrada para o encontro já destacara entre os pontos em agenda a discussão em torno da situação de Moçambique, revelou que deu instruções aos seus serviços para "acelerar o trabalho" com vista ao envio de uma missão de apoio à formação militar, tal como solicitado pelas autoridades moçambicanas.
"Moçambique é uma nova questão que aparece cada vez mais na nossa agenda. Atualizei os ministros sobre a nossa resposta ao pedido de Moçambique de assistência da UE para ajudar a fazer face à situação de segurança e ameaça territorial que [as autoridades moçambicanas] enfrentam em Cabo Delgado", começou por apontar.
Apontando que "o trabalho já está em curso", e que aquilo que está sobre a mesa é uma "missão de formação da UE semelhante àquelas que já há em vários países africanos", Josep Borrell reconheceu que ainda restam "uns passos" para concluir o trabalho, mas disse esperar celeridade.
"Dei instruções aos serviços para acelerar o trabalho, porque temos de responder ao pedido de Moçambique com um certo sentido de urgência que nem sempre temos", apontou.
Prosseguindo este raciocínio, Borrell referiu-se ao outro grande tema da reunião de hoje, a chamada «Bússola Estratégica» da UE, e adiantou que, no contexto dessa discussão, defendeu que "a UE precisa de ser mais eficaz e tomar decisões mais depressa".
"Temos de reagir mais rapidamente, temos de tomar decisões mais depressa. E discutimos designadamente como lançar missões e operações da UE mais rapidamente", afirmou, acrescentando mais adiante que a situação de Moçambique é mais uma demonstração dessa necessidade.
Portugal esteve representado na reunião pelo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
Leia Também: Bruxelas e Londres chegam a acordo sobre estatuto do embaixador da UE