Investigação sobre abusos sexuais na RD Congo mostra prática generalizada
Mais de 20 mulheres em Butembo, no norte da República Democrática do Congo (RDCongo), receberam propostas de trabalho em troca de sexo, segundo uma investigação da New Humanitarian e da Fundação Thomson Reuters, que fala em prática generalizada.
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Mundo RD Congo
"A New Humanitarian e a Fundação Thomson Reuters falaram com 22 mulheres em Butembo que disseram que os trabalhadores das agências humanitárias envolvidas na resposta à crise de Ébola ofereceram-lhes trabalho em troca de sexo", lê-se na investigação, divulgada hoje.
De acordo com a investigação, que surge na sequência de outras no final do ano passado, e de uma outra sobre o grau de conhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre estas acusações, divulgada na terça-feira pela AP, esta prática era generalizada e do conhecimento dos intervenientes, desde os funcionários do hotel até à generalidade dos trabalhadores das organizações humanitárias.
Numa das entrevistas conduzidas durante a investigação, um antigo funcionário chega a falar nas organizações de ajuda humanitária como "o último refúgio seguro" para os predadores sexuais, uma prática que motivou a instauração de várias investigações internas.
"As acusações surgem numa altura em que os financiadores pressionam estas organizações para fazerem mais na prevenção da exploração e abusos sexuais quando dão assistência aos cidadãos mais vulneráveis do mundo, e segue-se a uma investigação jornalística no ano passado, durante a qual 51 mulheres na cidade vizinha de Beni fizeram acusações semelhantes", lê-se na investigação colocada no site do New Humanitarian, um órgão de informação sobre as organizações de ajuda humanitária.
Além dos relatos dos abusos e violações, a notícia aponta também que estas mulheres identificaram sete organizações humanitárias, incluindo duas agências das Nações Unidas (a Organização Internacional das Migrações e Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Na terça-feira, a AP noticiou que durante a crise de Ébola na RDCongo, entre 2018 e 2020 e que fez 2.200 mortos, a direção da OMS, a principal visada nas acusações, estava a par dos relatos de abusos.
De acordo com a investigação da AP, baseada em relatórios, email internos, reuniões e entrevistas aos intervenientes, em 2019 a direção da OMS foi informada por uma enfermeira, Shekinah, que um médico canadiano, Boubacar Diallo, que se vangloriava de ser amigo do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, lhe ofereceu um emprego em troca de sexo.
"Dadas as dificuldades financeiras da minha família, eu aceitei", contou a enfermeira, de 25 anos, que passou a ganhar o dobro do que ganhava até então.
"Quando um funcionário e três peritos em Ébola a trabalhar na RDCongo informaram a direção da OMS sobre as preocupações face aos abusos sexuais de Diallo, foi-lhes dito que não abordassem o assunto", lê-se na investigação da AP, que vinca que a direção da OMS foi não só informada, como questionada sobre o que devia ser feito perante as acusações.
No dia 15 de outubro, o responsável máximo da OMS nomeou um painel independente para investigar estas e outras acusações sobre os abusos sexuais na RDCongo, cujas conclusões deverão ser conhecidas em agosto.
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